06/01/2004 Undime
Um em cada cinco estudantes brasileiros não passa de ano. Só cinco países reprovam mais.
De cada cinco alunos que começarão a cursar este ano o ensino fundamental ou médio no Brasil, um deve receber uma má notícia no final de 2004, quando terminarem as aulas: ele vai repetir o ano.
O dado, do Instituto Nacional de Pesquisa Educacional (Inep), do Ministério da Educação, forma um quadro ainda mais grave em conjunto com o que aponta outra pesquisa, realizada pela Unesco: apenas cinco países da África superam o Brasil em índices de repetência no ensino fundamental, numa comparação entre 107 países.
Problemas como a falta de estrutura nas escolas e também o pouco interesse dos pais em manter os filhos no colégio encaminharam-se para a extinção com o advento de programas de transferência de renda como o Bolsa-Escola e o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).
Ao longo dos anos, o MEC teve uma política acirrada de investimentos no ensino fundamental e, mesmo assim, os índices de repetência diminuíram menos do que o previsto.
Já o ensino médio, considerado o "primo pobre" do sistema, por não ser obrigatório, enfrenta a realidade da escassez de recursos e a inadequação dos currículos de estudantes que atravessam a conturbada fase da adolescência.
Para o professor e pesquisador Rubem Klein, responsável pelas estatísticas do Laboratório Nacional de Computação Científica do Ministério da Ciência e Tecnologia, nenhuma justificativa consegue explicar o que os números traduzem tão bem: a persistência dos altos índices de repetência escolar. Segundo ele, historicamente, as primeiras séries são pólos de concentração
do problema. "Cerca de 50% dos repetentes estão nas primeiras séries do fundamental e médio. A cultura que se criou em relação ao novo, ao que estar por vir, causa um clima de seleção e instinto de alta rigidez por parte dos professores, que, nessas séries, não admitem que o aluno seja apenas bom. Para passar, ele precisa ser ótimo", diz o professor, que também é consultor
da Fundação Cesgranrio.
Os professores, inconscientemente, cobram mais dos alunos nessas séries. Quando o aluno não apresenta o retorno esperado, é incentivado pelo próprio professor a repetir a série, para não passar raspando e fazer melhor a mesma série no ano seguinte.
"A dificuldade em exames de avaliação é muita relativa. Depende do professor, do sistema pedagógico, do aluno, de tudo. Notas de zero a dez, absolutas, não mostram realmente o conhecimento que é adquirido pelo aluno", defende o professor.
Ele lembra que o sistema de ensino brasileiro, e todos os outros derivados do sistema implantado por Portugal desde os tempos dos jesuítas e mais incisivamente no final do século XIX, é altamente seletivo e punitivo. "A filosofia dos professores e das escolas sempre foi excludente. Para se ter uma idéia, existia exame para passar do primário para o ginásio até 1971. Um pensamento de que a escola é para poucos, apenas os que conseguiam passar nos testes", disse Klein.
Falta qualidade à maioria dos colégios
O professor Ruben Klein alerta para um problema. Até o início dos anos 90, o método de pesquisa sobre repetência, utilizado pelo MEC, não considerava o número real de alunos que repetiam as séries. Somente depois de 1991 é que o ministério adotou o método correto.
"Antes, era considerado repetente todo aluno que era reprovado ou que não completava o ano, contando como evasão escolar. Mas as escolas, para evitar baixas taxas de aprovação, não contabilizavam o número de alunos matriculados desde o início e sim na renovação da matrícula, realizada no final do ano. Assim, a conta de reprovados sempre era menor em relação à situação real", explica ele.
O pesquisador ressalta que esse erro foi detectado e, a partir daí, os dados do Censo Escolar começaram a ser mais condizentes com a realidade. "A busca por melhores taxas de aprovação fez com que muitas escolas que percebiam o mau rendimento do aluno o encorajassem a deixar a sala de aula para retornar no ano seguinte na mesma série", revela o professor.
O bom desempenho dos alunos era necessário para afirmar o caráter da instituição de ensino. "No Rio de Janeiro, existia o pensamento de que aluno reprovado não entra na instituição X ou Y. Outras escolas utilizavam o slogan: 'Aqui não há repetentes!', para se auto-promover. Era muito comum", conta. Essa postura era compartilhada também com as escolas particulares. Todas queriam estar bem perante a Secretaria de educação do estado ou a sociedade.
O professor conta que outro equívoco cometido pelos pesquisadores em educação era atribuir uma alta taxa de evasão escolar à ausência de crianças na escola. "Existe uma política acirrada para manter a criança na escola, com a falsa ilusão de que a evasão é grande no país. Nos anos 80, existiam vagas para quantas crianças existissem, e elas estavam matriculadas. O que acontecia era que as escolas não contavam o aluno que tinha 'abandonado' a escola por causa da repetência e entrava como rematriculado no ano seguinte", alertou Klein.
Com isso, os índices de evasão subiram muito, gerando programas para o governo conter a saída de alunos das escolas. "As famílias sabem que a escola é o mínimo que a criança precisa para melhorar de vida. Programas como o Bolsa-Escola foram feitos para manter as crianças na escola, não para atraí-las até lá".
Para o professor, além do problema da mentalidade, que já está incorporada ao sistema educacional brasileiro, existe a falta de qualidade nas escolas. "É claro que, se você não aprende nada em um ano, vai continuar não aprendendo nada em dois ou três anos. Mas, se você aprende alguma coisa,
pode acrescentar mais conhecimento com mais anos".
Segundo ele, a formação dos professores ainda é o maior obstáculo para vencer os altos índices de repetência escolar. "O problema não é o ciclo ou a série, mas o modo de ensinar", diz.
Ensino médio deve tornar-se obrigatório
Para a diretora de Ensino Médio do MEC, Marize Ramos, o setor é atualmente o mais prejudicado dentre aqueles que compõem o sistema brasileiro, porque há falta de investimentos e políticas direcionadas nos últimos anos. Ela concorda que o ensino fundamental tenha recebido mais atenção.
"O poder público investiu mais no ensino fundamental por ser obrigatório e também no ensino superior, que sempre teve uma política própria. O ensino médio ficou no meio, não possui recursos ou fontes vinculadas, como a previsão constitucional de investimentos no ensino fundamental. É de
responsabilidade dos estados e nunca foi prioridade", lembra a diretora. Segundo ela, a experiência dos alunos nessa etapa é um aspecto muito importante e a falta de coerência entre o currículo médio e as características comuns dos jovens deve ser observada. "É preciso combater a
falta de interesse que os jovens têm pela organização escolar tradicional", alerta.
Outros pontos de destaque são as condições de ensino e qualidade das escolas, além da formação dos professores. "Tem que estar bem-preparado para ensinar e também para lidar com a cultura juvenil, para evitar conflito com os valores juvenis", disse.
Para combater os números da repetência, a diretora sugere que identificar os problemas deve ser o primeiro passo. Depois, é preciso elaborar um plano para superar deficiências.
"A escola deve saber que o aluno tem uma cultura própria. Deve estar preparada para compreender a fase de conflito dos alunos, desenvolver um processo de avaliação formativa e identificar as dificuldades de aprendizagem".
De acordo com ela, o MEC estará implantando, já este ano, uma política contundente de apoio, que passa pela obrigatoriedade do ensino médio. "Chegou a hora de cuidar do ensino médio. Existe demanda e a pressão é grande. Determinar a obrigatoriedade do ensino pode ser um dos caminhos.
Estamos elaborando um decreto que, a partir de janeiro de 2004, torne possível cobrar o ensino médio para faixa etária regular de 14 a 16 anos", revela.
Um pacote de medidas também vai dar suporte no fortalecimento da educação. "Com a futura aprovação do Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb), recursos, antes exclusivos do ensino fundamental, poderão ser divididos com os adolescentes", explica.
Os professores também vão ganhar atenção por meio do Programa Brasileiro de Apoio ao Educador do Ensino Médio. E não só eles, mas também os alunos, com a criação da Poupança-escola, incentivo previsto pela Secretaria de Inclusão Educacional que prevê uma bolsa de R$ 240 aluno/ano para manter o interesse do adolescente pela escola.
Ciclos não são suficientes para melhorar ensino
No Brasil, apenas no início dos anos 80 começaram a existir mudanças no sistema de avaliação da progressão dos estudantes, com a aplicação do sistema de ciclos, inicialmente em São Paulo e Minas Gerais. A primeira e a segunda séries começaram a fazer parte de um ciclo básico de ensino, no intuito de respeitar o tempo de aprendizagem de cada aluno.
"Foi um equívoco, porque, quando a criança chegava ao final do ciclo, não estava igualmente apta a passar para a terceira série e acabava repetindo a segunda série do ciclo básico por várias vezes. O que acontecia era que o aluno não era mais considerado repetente, o que gerava um inchamento de alunos na série final do ciclo", explica o pesquisador.
A idéia dos ciclos ganhou força em São Paulo, quando, em 1992, uma nova organização curricular foi proposta na gestão do pedagogo Paulo Freire, no regimento da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Todas as ações da gestão formaram condições preparatórias para a mudança da organização em dois ciclos: Ciclo I, da 1ª à 4ª, e Ciclo II, da 5ª à 8ª série. Neles, a progressão continuada tem lugar, para que a trajetória escolar do aluno não seja interrompida.
Para a professora Ana Maria Saul, uma das companheiras de Paulo Freire à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o pedagogo posicionava-se, sempre, contra a repetência escolar e demonstrava indignação com o que ele considerava uma "expulsão dos alunos" da escola.
"As saídas para a repetência sempre estiveram pautadas na construção de uma escola pública popular democrática e de boa qualidade, compromisso que marcou toda a gestão Paulo Freire. Significou atuar simultaneamente e, com grande intensidade, em ações de reorientação curricular e de formação permanente dos educadores, principalmente, por meio da modalidade de grupos de formação. Ali, a reflexão sobre a prática dos professores marcava o ponto de partida para novas ações", explica a professora.
Todas as melhorias numa escola passam pela criação de melhores condições de trabalho para os professores poderem planejar o seu dia-a-dia, além de equipamento para as escolas, diz ela.
Um em cada cinco estudantes brasileiros não passa de ano. Só cinco países reprovam mais.De cada cinco alunos que começarão a cursar este ano o ensino fundamental ou médio no Brasil, um deve receber uma má notícia no final de 2004, quando terminarem as aulas: ele vai repetir o ano.O dado, do Instituto Nacional de Pesquisa Educacional (Inep), do Ministério da Educação, forma um quadro ainda mais grave em conjunto com o que aponta outra pesquisa, realizada pela Unesco: apenas cinco países da África superam o Brasil em índices de repetência no ensino fundamental, numa comparação entre 107 países.Problemas como a falta de estrutura nas escolas e também o pouco interesse dos pais em manter os filhos no colégio encaminharam-se para a extinção com o advento de programas de transferência de renda como o Bolsa-Escola e o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).Ao longo dos anos, o MEC teve uma política acirrada de investimentos no ensino fundamental e, mesmo assim, os índices de repetência diminuíram menos do que o previsto.Já o ensino médio, considerado o "primo pobre" do sistema, por não ser obrigatório, enfrenta a realidade da escassez de recursos e a inadequação dos currículos de estudantes que atravessam a conturbada fase da adolescência.Para o professor e pesquisador Rubem Klein, responsável pelas estatísticas do Laboratório Nacional de Computação Científica do Ministério da Ciência e Tecnologia, nenhuma justificativa consegue explicar o que os números traduzem tão bem: a persistência dos altos índices de repetência escolar. Segundo ele, historicamente, as primeiras séries são pólos de concentraçãodo problema. "Cerca de 50% dos repetentes estão nas primeiras séries do fundamental e médio. A cultura que se criou em relação ao novo, ao que estar por vir, causa um clima de seleção e instinto de alta rigidez por parte dos professores, que, nessas séries, não admitem que o aluno seja apenas bom. Para passar, ele precisa ser ótimo", diz o professor, que também é consultorda Fundação Cesgranrio.Os professores, inconscientemente, cobram mais dos alunos nessas séries. Quando o aluno não apresenta o retorno esperado, é incentivado pelo próprio professor a repetir a série, para não passar raspando e fazer melhor a mesma série no ano seguinte."A dificuldade em exames de avaliação é muita relativa. Depende do professor, do sistema pedagógico, do aluno, de tudo. Notas de zero a dez, absolutas, não mostram realmente o conhecimento que é adquirido pelo aluno", defende o professor.Ele lembra que o sistema de ensino brasileiro, e todos os outros derivados do sistema implantado por Portugal desde os tempos dos jesuítas e mais incisivamente no final do século XIX, é altamente seletivo e punitivo. "A filosofia dos professores e das escolas sempre foi excludente. Para se ter uma idéia, existia exame para passar do primário para o ginásio até 1971. Um pensamento de que a escola é para poucos, apenas os que conseguiam passar nos testes", disse Klein.Falta qualidade à maioria dos colégiosO professor Ruben Klein alerta para um problema. Até o início dos anos 90, o método de pesquisa sobre repetência, utilizado pelo MEC, não considerava o número real de alunos que repetiam as séries. Somente depois de 1991 é que o ministério adotou o método correto."Antes, era considerado repetente todo aluno que era reprovado ou que não completava o ano, contando como evasão escolar. Mas as escolas, para evitar baixas taxas de aprovação, não contabilizavam o número de alunos matriculados desde o início e sim na renovação da matrícula, realizada no final do ano. Assim, a conta de reprovados sempre era menor em relação à situação real", explica ele.O pesquisador ressalta que esse erro foi detectado e, a partir daí, os dados do Censo Escolar começaram a ser mais condizentes com a realidade. "A busca por melhores taxas de aprovação fez com que muitas escolas que percebiam o mau rendimento do aluno o encorajassem a deixar a sala de aula para retornar no ano seguinte na mesma série", revela o professor.O bom desempenho dos alunos era necessário para afirmar o caráter da instituição de ensino. "No Rio de Janeiro, existia o pensamento de que aluno reprovado não entra na instituição X ou Y. Outras escolas utilizavam o slogan: 'Aqui não há repetentes!', para se auto-promover. Era muito comum", conta. Essa postura era compartilhada também com as escolas particulares. Todas queriam estar bem perante a Secretaria de educação do estado ou a sociedade.O professor conta que outro equívoco cometido pelos pesquisadores em educação era atribuir uma alta taxa de evasão escolar à ausência de crianças na escola. "Existe uma política acirrada para manter a criança na escola, com a falsa ilusão de que a evasão é grande no país. Nos anos 80, existiam vagas para quantas crianças existissem, e elas estavam matriculadas. O que acontecia era que as escolas não contavam o aluno que tinha 'abandonado' a escola por causa da repetência e entrava como rematriculado no ano seguinte", alertou Klein.Com isso, os índices de evasão subiram muito, gerando programas para o governo conter a saída de alunos das escolas. "As famílias sabem que a escola é o mínimo que a criança precisa para melhorar de vida. Programas como o Bolsa-Escola foram feitos para manter as crianças na escola, não para atraí-las até lá".Para o professor, além do problema da mentalidade, que já está incorporada ao sistema educacional brasileiro, existe a falta de qualidade nas escolas. "É claro que, se você não aprende nada em um ano, vai continuar não aprendendo nada em dois ou três anos. Mas, se você aprende alguma coisa,pode acrescentar mais conhecimento com mais anos".Segundo ele, a formação dos professores ainda é o maior obstáculo para vencer os altos índices de repetência escolar. "O problema não é o ciclo ou a série, mas o modo de ensinar", diz.Ensino médio deve tornar-se obrigatórioPara a diretora de Ensino Médio do MEC, Marize Ramos, o setor é atualmente o mais prejudicado dentre aqueles que compõem o sistema brasileiro, porque há falta de investimentos e políticas direcionadas nos últimos anos. Ela concorda que o ensino fundamental tenha recebido mais atenção."O poder público investiu mais no ensino fundamental por ser obrigatório e também no ensino superior, que sempre teve uma política própria. O ensino médio ficou no meio, não possui recursos ou fontes vinculadas, como a previsão constitucional de investimentos no ensino fundamental. É deresponsabilidade dos estados e nunca foi prioridade", lembra a diretora. Segundo ela, a experiência dos alunos nessa etapa é um aspecto muito importante e a falta de coerência entre o currículo médio e as características comuns dos jovens deve ser observada. "É preciso combater afalta de interesse que os jovens têm pela organização escolar tradicional", alerta.Outros pontos de destaque são as condições de ensino e qualidade das escolas, além da formação dos professores. "Tem que estar bem-preparado para ensinar e também para lidar com a cultura juvenil, para evitar conflito com os valores juvenis", disse.Para combater os números da repetência, a diretora sugere que identificar os problemas deve ser o primeiro passo. Depois, é preciso elaborar um plano para superar deficiências."A escola deve saber que o aluno tem uma cultura própria. Deve estar preparada para compreender a fase de conflito dos alunos, desenvolver um processo de avaliação formativa e identificar as dificuldades de aprendizagem".De acordo com ela, o MEC estará implantando, já este ano, uma política contundente de apoio, que passa pela obrigatoriedade do ensino médio. "Chegou a hora de cuidar do ensino médio. Existe demanda e a pressão é grande. Determinar a obrigatoriedade do ensino pode ser um dos caminhos.Estamos elaborando um decreto que, a partir de janeiro de 2004, torne possível cobrar o ensino médio para faixa etária regular de 14 a 16 anos", revela.Um pacote de medidas também vai dar suporte no fortalecimento da educação. "Com a futura aprovação do Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb), recursos, antes exclusivos do ensino fundamental, poderão ser divididos com os adolescentes", explica.Os professores também vão ganhar atenção por meio do Programa Brasileiro de Apoio ao Educador do Ensino Médio. E não só eles, mas também os alunos, com a criação da Poupança-escola, incentivo previsto pela Secretaria de Inclusão Educacional que prevê uma bolsa de R$ 240 aluno/ano para manter o interesse do adolescente pela escola.Ciclos não são suficientes para melhorar ensinoNo Brasil, apenas no início dos anos 80 começaram a existir mudanças no sistema de avaliação da progressão dos estudantes, com a aplicação do sistema de ciclos, inicialmente em São Paulo e Minas Gerais. A primeira e a segunda séries começaram a fazer parte de um ciclo básico de ensino, no intuito de respeitar o tempo de aprendizagem de cada aluno."Foi um equívoco, porque, quando a criança chegava ao final do ciclo, não estava igualmente apta a passar para a terceira série e acabava repetindo a segunda série do ciclo básico por várias vezes. O que acontecia era que o aluno não era mais considerado repetente, o que gerava um inchamento de alunos na série final do ciclo", explica o pesquisador.A idéia dos ciclos ganhou força em São Paulo, quando, em 1992, uma nova organização curricular foi proposta na gestão do pedagogo Paulo Freire, no regimento da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Todas as ações da gestão formaram condições preparatórias para a mudança da organização em dois ciclos: Ciclo I, da 1ª à 4ª, e Ciclo II, da 5ª à 8ª série. Neles, a progressão continuada tem lugar, para que a trajetória escolar do aluno não seja interrompida.Para a professora Ana Maria Saul, uma das companheiras de Paulo Freire à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o pedagogo posicionava-se, sempre, contra a repetência escolar e demonstrava indignação com o que ele considerava uma "expulsão dos alunos" da escola."As saídas para a repetência sempre estiveram pautadas na construção de uma escola pública popular democrática e de boa qualidade, compromisso que marcou toda a gestão Paulo Freire. Significou atuar simultaneamente e, com grande intensidade, em ações de reorientação curricular e de formação permanente dos educadores, principalmente, por meio da modalidade de grupos de formação. Ali, a reflexão sobre a prática dos professores marcava o ponto de partida para novas ações", explica a professora.Todas as melhorias numa escola passam pela criação de melhores condições de trabalho para os professores poderem planejar o seu dia-a-dia, além de equipamento para as escolas, diz ela.