07/10/2004 Undime
A Década das Nações Unidas para a Alfabetização espera avanços substanciais na redução do analfabetismo até 2012. É uma oportunidade para ir além das boas intenções, aprofundar o debate pedagógico e implementar políticas consistentes.
Ser alfabetizado é condição para comunicar-se na sociedade contemporânea e para fruir o bem mais valioso para todo ser humano, que é a liberdade. A alfabetização é instrumento para todo tipo de aprendizagem, ajuda indivíduos e comunidades a fortalecer a identidade cultural, prover os meios de subsistência, participar socialmente, exercer a cidadania, conviver na diversidade com tolerância, resolver pacificamente os conflitos.
Embora a alfabetização seja reconhecida como um direito humano, uma em cada cinco pessoas jovens ou adultas não pode comunicar-se por meio da escrita; dois terços delas são mulheres. Ainda hoje, mais de cem milhões de crianças e adolescentes não têm acesso à escola e, se nada for feito, elas engrossarão o já extenso contingente de analfabetos.
Essas motivações levaram a 56a Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas adotar a Resolução que instituiu a Década das Nações Unidas para a Alfabetização 2003-2012, com o objetivo de promover a aprendizagem de crianças, jovens e adultos.
Trata-se de uma iniciativa de toda ONU, cuja coordenação foi atribuída à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A UNESCO tem procurado articulá-la a outras agendas prioritárias, particularmente ao compromisso assumido pelos países em Dakar em 2000 de assegurar Educação para Todos até 2015.
No transcorrer da Década, espera-se avanços substanciais no campo da alfabetização. Dentre as metas, está a de elevar em 50% o percentual de alfabetizados, especialmente as mulheres, e prover acesso à educação básica e continuada para adultos. O objetivo é garantir que todos os educandos dominem as habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo, bem como os conhecimentos práticos essenciais à vida social.
Debate público
A Educação para Todos começa com a alfabetização. Esta, por sua vez, requer políticas que levem em conta o poder de mobilização e a participação das comunidades locais. Tais ações devem estar integradas a outras estratégias de redução da pobreza e melhoria da qualidade de vida.
Para que as metas da década sejam alcançadas, os programas de alfabetização devem ser flexíveis e atender às necessidades de aprendizagem dos educandos, adaptando-se à diversidade de contextos socioculturais e lingüísticos.
Também é preciso ter em mente a importância dos formadores e a própria formação dessas pessoas, que precisam ser capazes de atender um público que não sabe ler e escrever, mas que carrega uma gigantesca bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo da vida.
A Resolução da ONU tem poucas chances de impacto sobre as políticas educacionais, visto que reúne pouco consenso e dispõe de recursos escassos. Mas a Década da Alfabetização é também uma oportunidade para repor na pauta do debate público a relevância para o desenvolvimento econômico e humano da alfabetização, compreendida como porta de ingresso de processos de educação continuada ao longo da vida.
Também é ocasião propícia para renovar o debate político-pedagógico sobre a alfabetização, na direção de uma visão ampliada e flexível, que reconheça a pluralidade das concepções e práticas letradas nas sociedades contemporâneas, de modo a diversificar e enriquecer os processos de aprendizagem.
É necessário também a criação de políticas flexíveis, que promovam processos de alfabetização adequados aos contextos culturais, de maneira sustentável e apoiada em dados e pesquisas científicas. Um monitoramento eficiente e o engajamento social amplo são pré-requisitos para que ocorram avanços substanciais, de maneira que a Década não se perca como uma excelente idéia que não deu lá muito certo.
*Maria Clara DI Pierro é coordenadora da área de Pesquisa e Avaliação da Ação Educativa.
A Década das Nações Unidas para a Alfabetização espera avanços substanciais na redução do analfabetismo até 2012. É uma oportunidade para ir além das boas intenções, aprofundar o debate pedagógico e implementar políticas consistentes.Ser alfabetizado é condição para comunicar-se na sociedade contemporânea e para fruir o bem mais valioso para todo ser humano, que é a liberdade. A alfabetização é instrumento para todo tipo de aprendizagem, ajuda indivíduos e comunidades a fortalecer a identidade cultural, prover os meios de subsistência, participar socialmente, exercer a cidadania, conviver na diversidade com tolerância, resolver pacificamente os conflitos.Embora a alfabetização seja reconhecida como um direito humano, uma em cada cinco pessoas jovens ou adultas não pode comunicar-se por meio da escrita; dois terços delas são mulheres. Ainda hoje, mais de cem milhões de crianças e adolescentes não têm acesso à escola e, se nada for feito, elas engrossarão o já extenso contingente de analfabetos.Essas motivações levaram a 56a Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas adotar a Resolução que instituiu a Década das Nações Unidas para a Alfabetização 2003-2012, com o objetivo de promover a aprendizagem de crianças, jovens e adultos.Trata-se de uma iniciativa de toda ONU, cuja coordenação foi atribuída à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A UNESCO tem procurado articulá-la a outras agendas prioritárias, particularmente ao compromisso assumido pelos países em Dakar em 2000 de assegurar Educação para Todos até 2015.No transcorrer da Década, espera-se avanços substanciais no campo da alfabetização. Dentre as metas, está a de elevar em 50% o percentual de alfabetizados, especialmente as mulheres, e prover acesso à educação básica e continuada para adultos. O objetivo é garantir que todos os educandos dominem as habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo, bem como os conhecimentos práticos essenciais à vida social.Debate públicoA Educação para Todos começa com a alfabetização. Esta, por sua vez, requer políticas que levem em conta o poder de mobilização e a participação das comunidades locais. Tais ações devem estar integradas a outras estratégias de redução da pobreza e melhoria da qualidade de vida.Para que as metas da década sejam alcançadas, os programas de alfabetização devem ser flexíveis e atender às necessidades de aprendizagem dos educandos, adaptando-se à diversidade de contextos socioculturais e lingüísticos.Também é preciso ter em mente a importância dos formadores e a própria formação dessas pessoas, que precisam ser capazes de atender um público que não sabe ler e escrever, mas que carrega uma gigantesca bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo da vida.A Resolução da ONU tem poucas chances de impacto sobre as políticas educacionais, visto que reúne pouco consenso e dispõe de recursos escassos. Mas a Década da Alfabetização é também uma oportunidade para repor na pauta do debate público a relevância para o desenvolvimento econômico e humano da alfabetização, compreendida como porta de ingresso de processos de educação continuada ao longo da vida.Também é ocasião propícia para renovar o debate político-pedagógico sobre a alfabetização, na direção de uma visão ampliada e flexível, que reconheça a pluralidade das concepções e práticas letradas nas sociedades contemporâneas, de modo a diversificar e enriquecer os processos de aprendizagem.É necessário também a criação de políticas flexíveis, que promovam processos de alfabetização adequados aos contextos culturais, de maneira sustentável e apoiada em dados e pesquisas científicas. Um monitoramento eficiente e o engajamento social amplo são pré-requisitos para que ocorram avanços substanciais, de maneira que a Década não se perca como uma excelente idéia que não deu lá muito certo.*Maria Clara DI Pierro é coordenadora da área de Pesquisa e Avaliação da Ação Educativa.