31/10/2005 Undime
Os números de negros e brancos matriculados na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio são semelhantes, mas na educação de jovens e adultos os negros ocupam o dobro das vagas em relação aos brancos. Na educação profissional o panorama se inverte: o número de brancos matriculados é significativamente maior do que o de negros.
Esta e outras conclusões podem ser tiradas dos dados preliminares do Censo Escolar 2005, que pela primeira vez coletou informações de raça e cor. No total, são 55 milhões de alunos matriculados na educação básica, número 1,3% inferior aos dados do ano passado. O censo é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação.
“O censo é uma fotografia de uma realidade mutante”, afirma Frei David, coordenador do projeto Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro ). Ele ficou “positivamente surpreendido” com a presença da população negra (pardos e negro) na educação básica, de 56%. Segundo o último censo do IBGE, de 2000, os negros representam 46,3% da população brasileira.
Para Frei David os números mostram que a comunidade afro-brasileira está deixando de se envergonhar de sua etnia e começa a assumir a negritude. “A inclusão deste recorte no censo é um passo fundamental para a saúde de nossa nação, que só tem a ganhar com o fim das discriminações”, diz.
Ele atribui o número expressivo de negros matriculados no Ensino de Jovens e Adultos (53%, contra 24% de brancos), à percepção, principalmente entre os jovens, da necessidade de “correr atrás do prejuízo”, matriculando-se nos cursos de EJA. Frei David acredita que o número de negros entre os matriculados no Ensino Médio deve crescer ainda mais quando os jovens negros hoje matriculados no Ensino Fundamental (47%, contra 33% de brancos) envelhecerem.
Para Suelaine Carneiro, assistente do Concurso Negro e Educação, da Ação Educativa, e coordenadora do Centro de Pesquisas do Geledés – Instituto da Mulher Negra, a vantagem expressiva da população negra em EJA pode ser compreendida pela ausência dos negros nas etapas regulares de conclusão dos cursos. “A grande presença negra em EJA revela o que muitas análises já demonstraram: o estudante negro é o que sai mais cedo do ensino”, diz.
Entre as razões do abandono escolar, Suelaine cita os problemas de ordem financeira, que levam muitos para o mercado de trabalho, e a falta de identificação dos estudantes com a escola. “Muitos não se consideram representados naquele ambiente e são confrontados repetidas vezes com situações de discriminação e preconceito. E o sistema escolar não oferece formas para solução dos conflitos”, diz. Porém a população negra, segundo ela, é a que mais retorna à escola para tentar concluir seus estudos.
Suelaine acredita que o sistema de ensino brasileiro ainda não sabe lidar com a diversidade. Para ela, a escola tende a representar negativamente a criança negra e retrata o negro como sujeito passivo da história. Não valoriza os heróis negros, as civilizações africanas e nem as religiões de matriz africana.
O preconceito se manifesta através de agressões verbais por parte de alunos, professores ou funcionários, através de piadas, apelidos e brincadeiras de cunho racista. Situações que, segundo Suelaine, são ignoradas ou menosprezadas pela escola na maioria das vezes. “O preconceito só irá diminuir com atitudes que promovam o respeito entre alunos, professores e demais funcionários, discutam as diferenças entre os sujeitos e, principalmente, com a adoção de práticas pedagógicas que difundam e valorizem a participação igualitária de todas as etnias na formação do Brasil”, afirma.
Para ela a iniciativa do INEP de incluir o quesito cor no censo deste ano está de acordo com as ações que o Governo Federal se comprometeu a adotar em função de reivindicações do Movimento Negro. “A análise a partir das categorias raça/gênero é pertinente porque são as que apresentam as maiores distorções: os negros estão entre os mais pobres da população e excluídos das posições de prestígio social”, diz.
Suelaine aguarda a liberação dos dados completos do censo 2005, que deve ocorrer em janeiro de 2006, para analisar a participação de homens e mulheres no ambiente escolar. Outras análises já revelaram que as mulheres têm maior participação e melhor desempenho no universo escolar, apesar da sub-representadas no mercado de trabalho e receberem salários menores, mesmo com escolaridade equivalente aos homens.
“Somente o conhecimento da participação racial e de gênero na sociedade brasileira é que poderemos efetivar políticas públicas que atuem no sentido de erradicar as diferenças”, afirma Suelaine. “Outro dado importante da pesquisa é a expressiva participação dos alunos que declararam sua cor, o que põe por terra idéias de que é difícil tratar este tema com os alunos, ou de que ninguém sabe qual é a sua cor no Brasil”, conclui.
Os números de negros e brancos matriculados na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio são semelhantes, mas na educação de jovens e adultos os negros ocupam o dobro das vagas em relação aos brancos. Na educação profissional o panorama se inverte: o número de brancos matriculados é significativamente maior do que o de negros.Esta e outras conclusões podem ser tiradas dos dados preliminares do Censo Escolar 2005, que pela primeira vez coletou informações de raça e cor. No total, são 55 milhões de alunos matriculados na educação básica, número 1,3% inferior aos dados do ano passado. O censo é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação.“O censo é uma fotografia de uma realidade mutante”, afirma Frei David, coordenador do projeto Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro ). Ele ficou “positivamente surpreendido” com a presença da população negra (pardos e negro) na educação básica, de 56%. Segundo o último censo do IBGE, de 2000, os negros representam 46,3% da população brasileira. Para Frei David os números mostram que a comunidade afro-brasileira está deixando de se envergonhar de sua etnia e começa a assumir a negritude. “A inclusão deste recorte no censo é um passo fundamental para a saúde de nossa nação, que só tem a ganhar com o fim das discriminações”, diz.Ele atribui o número expressivo de negros matriculados no Ensino de Jovens e Adultos (53%, contra 24% de brancos), à percepção, principalmente entre os jovens, da necessidade de “correr atrás do prejuízo”, matriculando-se nos cursos de EJA. Frei David acredita que o número de negros entre os matriculados no Ensino Médio deve crescer ainda mais quando os jovens negros hoje matriculados no Ensino Fundamental (47%, contra 33% de brancos) envelhecerem.Para Suelaine Carneiro, assistente do Concurso Negro e Educação, da Ação Educativa, e coordenadora do Centro de Pesquisas do Geledés – Instituto da Mulher Negra, a vantagem expressiva da população negra em EJA pode ser compreendida pela ausência dos negros nas etapas regulares de conclusão dos cursos. “A grande presença negra em EJA revela o que muitas análises já demonstraram: o estudante negro é o que sai mais cedo do ensino”, diz. Entre as razões do abandono escolar, Suelaine cita os problemas de ordem financeira, que levam muitos para o mercado de trabalho, e a falta de identificação dos estudantes com a escola. “Muitos não se consideram representados naquele ambiente e são confrontados repetidas vezes com situações de discriminação e preconceito. E o sistema escolar não oferece formas para solução dos conflitos”, diz. Porém a população negra, segundo ela, é a que mais retorna à escola para tentar concluir seus estudos.Suelaine acredita que o sistema de ensino brasileiro ainda não sabe lidar com a diversidade. Para ela, a escola tende a representar negativamente a criança negra e retrata o negro como sujeito passivo da história. Não valoriza os heróis negros, as civilizações africanas e nem as religiões de matriz africana. O preconceito se manifesta através de agressões verbais por parte de alunos, professores ou funcionários, através de piadas, apelidos e brincadeiras de cunho racista. Situações que, segundo Suelaine, são ignoradas ou menosprezadas pela escola na maioria das vezes. “O preconceito só irá diminuir com atitudes que promovam o respeito entre alunos, professores e demais funcionários, discutam as diferenças entre os sujeitos e, principalmente, com a adoção de práticas pedagógicas que difundam e valorizem a participação igualitária de todas as etnias na formação do Brasil”, afirma.Para ela a iniciativa do INEP de incluir o quesito cor no censo deste ano está de acordo com as ações que o Governo Federal se comprometeu a adotar em função de reivindicações do Movimento Negro. “A análise a partir das categorias raça/gênero é pertinente porque são as que apresentam as maiores distorções: os negros estão entre os mais pobres da população e excluídos das posições de prestígio social”, diz.Suelaine aguarda a liberação dos dados completos do censo 2005, que deve ocorrer em janeiro de 2006, para analisar a participação de homens e mulheres no ambiente escolar. Outras análises já revelaram que as mulheres têm maior participação e melhor desempenho no universo escolar, apesar da sub-representadas no mercado de trabalho e receberem salários menores, mesmo com escolaridade equivalente aos homens. “Somente o conhecimento da participação racial e de gênero na sociedade brasileira é que poderemos efetivar políticas públicas que atuem no sentido de erradicar as diferenças”, afirma Suelaine. “Outro dado importante da pesquisa é a expressiva participação dos alunos que declararam sua cor, o que põe por terra idéias de que é difícil tratar este tema com os alunos, ou de que ninguém sabe qual é a sua cor no Brasil”, conclui.