10/12/2007 Undime
Apesar da educação ser definida como a base para o convívio social, ainda há muito a ser feito para que todos os cidadãos tenham acesso ao ensino de qualidade no País. Mesmo com os exemplos referenciais de projetos educacionais espalhados pelos Interior do Ceará, a secretária de Educação do Estado, Izolda Cela, informa que a situação do ensino ainda é preocupante. Com o ensino público considerado crítico, fica difícil os jovens e adultos terem acesso à qualificação profissional. Somente no ano passado, mais de 60% dos jovens entre 15 e 17 anos ficou fora do Ensino Médio no Estado. A quantidade de alunos matriculados nas escolas estaduais não condizia com a faixa etária exigida. Dos 430 mil estudantes matriculados, apenas 206.332 tinham entre 15 e 17 anos. Estimativas apontam que mais da metade dos matriculados no Ensino Médio estão além da faixa etária ideal para freqüentar a escola. Além da problemática dos alunos com idades elevadas e da evasão escolar, os dados apontam que a região Nordeste ainda lidera o ranking do analfabetismo, e o Ceará é o quinto Estado em índice mais elevado da região, com indicativo de 26,54%, depois de Alagoas, Maranhão, Piauí e Paraíba. De acordo com a secretária de Educação do Estado, Izolda Cela, o nível de educação no Ceará é ruim e ainda não existem municípios que sejam considerados exemplos nesta área. “O nível da educação é muito ruim. Mas temos que pensar nos resultados fundamentais, que incluem o aprendizado dos alunos”, diz. Apesar de encontrar um cenário bastante difícil de ser revertido em tempo recorde, Izolda acredita que será possível melhorar a educação do Estado, mas é preciso que haja, também, a cooperação da sociedade, professores e, principalmente, a motivação dos pais e dos alunos. Neste aspecto, os projetos que ampliam as atividades educacionais, a exemplo do que é realizado em Pacoti, Ocara, Aracati, Lavras da Mangabeira e Monsenhor Tabosa servem de referência. Segundo a secretária, quando a educação não recebe atenção necessária, incluindo investimentos financeiros, capacitação de professores e estrutura das escolas, há uma conseqüência bastante visível: a ineficácia do ensino. O resultado já é esperado: jovens concluem o Ensino Médio sem os conhecimentos exigidos de leitura e escrita. Ou seja, saem da escola semi-analfabetos. “A sociedade tem que entender que todo esse nível insuficiente de aprendizagem que existe tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio tem, como origem, um processo de alfabetização fracassado”, salienta a secretária. “Com isso, as crianças não se alfabetizam na idade certa, mas, mesmo assim, elas conseguem ser aprovadas de um ano para outro. Mas não sei como esses alunos são aprovados. E você encontra estudantes analfabetos ou semi-alfabetizados em todo o Ensino Básico, inclusive no Ensino Médio. Os professores estão dizendo, o tempo inteiro, que não sabem se ministram a disciplina ou alfabetizam os alunos”, completa. Esta situação reforça a falta da qualidade do ensino. Com isso, os jovens da escola pública ficam em desvantagens para concorrer nos processos seletivos para ingressar na faculdade ou escolas técnicas federais no Estado. “Há uma sinalização de que os jovens têm muitas dificuldades em ingressar numa profissão”, diz a secretária. Municípios No Ceará, os cinco municípios que apresentam os índices mais elevados de analfabetismo atingem quase a metade da população. Como é o caso de Granja, distante 335km da Capital cearense, que possui taxa de 51,2% de analfabetos. Já as outras cidades, pontuam quase a metade dos moradores que não sabem ler nem escrever. Como é o caso de Salitre (49,9%), Saboeiro (47,3%), Assaré (47%) e Itatira (44,4%). Não será fácil reverter esses índices, uma vez que, desde a década de 1970, discute-se a erradicação do analfabetismo no País. Mesmo assim, nenhum programa governamental foi capaz de atingir este objetivo. “Também não é só alfabetizar na idade certa, mas isso já dá uma certa garantia à população. Já o programa do governo federal, Brasil Alfabetizado, tem a proposta de consertar um problema estrutural, de alfabetizar jovens e adultos que, apesar da idade e de ter muitos anos de escolaridade, ainda não sabem ler e escrever”, diz. Mesmo assim, Izolda argumenta que os programas para erradicação do analfabetismo não devem ser iguais, caso contrário não atingirão os objetivos. De acordo com Izolda, o nível de analfabetismo só poderá deixar de existir quando for realizado um “trabalho decente” nas escolas públicas do Estado e dos municípios, além de haver a promoção da educação de qualidade. Mesmo assim, Izolda destaca a participação e atuação das diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs) que atuam em todo o Estado com o objetivo de promover a qualidade no ensino. “Se conseguirmos trabalhar na idade certa dos alunos, evitaremos problemas de diversas naturezas, inclusive o analfabetismo de jovens e adultos. Só poderemos evitar esse problema no nosso Estado e no nosso País quando tivermos uma escolaridade decente, porque do jeito que está, até a escola produz analfabetos”, declara. Na opinião da secretária, isto pode configurar um retrocesso social. “Infelizmente é isso, o povo está na escola, mas não está se alfabetizando. Aqui no Ceará, foi feita uma avaliação do Comitê Pela Eliminação do Analfabetismo Escolar, promovido pela Assembléia Legislativa em parceria com universidades, entre alunos da 2ª série. O resultado mostrou que 60% desses alunos não conseguia ler nem escrever”. E completa: “Esses programas que pretendem corrigir o problema realmente têm amargado uma situação dificílima. Tanto o Brasil quanto o Ceará investiram muito dinheiro. Só no Ceará, foram mais de U 22 milhões para os programas de alfabetização de jovens e adultos, em parceria com o Banco Mundial. Mesmo assim, os resultados não são bons”, . Além desses resultados serem considerados insatisfatórios, Izolda conta que recebeu visitas dos técnicos do Ministério da Educação (MEC) sobre os índices educacionais apresentados no Estado. “Estamos fazendo uma autocrítica para saber onde foi que nós erramos, e que o Brasil precisa dar conta disso. Eles (os técnicos do MEC) estão muito empenhados. Mas vale ressaltar que precisamos fazer diferente. Está todo mundo amargando um fracasso grande”, destaca. Para a secretária, quando o País consegue atingir um nível satisfatório de alfabetização, é possível verificar uma valorização da condição humana e, promovendo a auto-estima dos jovens e adultos. “As pessoas sentem-se integradas quando sabem ler. Já aquela parcela que não sabe, fica muito fragilizada. Uma pesquisa do Unicef mostra que a mãe, quando alfabetizada, proporciona melhoria na qualidade de vida dos filhos. Isso repercute positivamente na saúde”, alerta. Resultados Os resultados, de uma maneira geral, são muito ruins, como salientou a secretária. O município de Aiuaba teve a maior nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) com 4,4, enquanto que a média do Brasil é 3,8, numa escala de 0 a 10. E Sobral com 4, como resultado da aprendizagem e do fluxo de alunos. “Você encontra um determinado esforço voltado para a aprendizagem dos alunos. Experiências boas e esforços existem. Apesar de termos resultados ruins, o momento é promissor com alguns municípios”, diz. Formação de Base Ideb aponta municípios acima do Estado Fortaleza - Obter bons indicadores educacionais não é um processo rápido e fácil. Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), no Ceará, Flávio de Araújo Barbosa, o Estado não apresenta um quadro insuficiente, mas os índices apontam que, em determinados municípios, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foram maiores que a média estadual e nacional. “Mas mesmo assim, é preciso investir na formação de professores, porque existem muitos deles graduados em Pedagogia, mas que atuam em diversas disciplinas”. No entanto, o incentivo maior para que os alunos sejam beneficiados vai depender de cada escola e dos projetos a serem realizados por cada uma delas. “A preocupação fica em torno da escola e dos projetos de desenvolvimento da educação e político-pedagógico que possam destacar as potencialidades dos estabelecimentos de ensino”, completa Flávio. Para a presidente da Undime Nacional, Cleuza Repulho, é preciso identificar a melhor estratégia a ser aplicada nas escolas, considerando as diferentes realidades encontradas pelos alunos e professores. O segredo é procurar meios eficazes que garantam um melhor aprendizado pelos estudantes, com uma metodologia adequada para as diferentes situações e níveis de aprendizado, principalmente nos programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Infantil. De acordo com Cleuza, além do péssimo rendimento dos alunos, há também a preocupação com a taxa de evasão. O fato de os alunos deixarem a sala de aula pode ser definida com a falta de incentivos na escola. “A maior taxa de evasão é quando o aluno não consegue aprender. Mas ainda faltam muitas políticas públicas de educação que procurem melhorar o ensino”, destaca. Apesar dessas preocupações, Cleuza lembra que o principal foco em promover a educação de qualidade é pensar sempre na base. Ou seja, pensar na alfabetização infantil. “Tem que ter uma preocupação maior com a Educação Infantil, principalmente porque não ter tanta cobertura quanto deveria”, diz Cleuza. A avaliação que a presidente da Undime faz em relação à situação educacional brasileira, apesar de ser preocupante, pode acarretar em algumas modificações capazes de melhorar o atual cenário em que se encontra. “Precisamos dessa avaliação para que os erros dessa educação possam ser modificados e corrigidos. É para saber se aquele método está apresentando bons resultados ou não. Mas pode ser que alguns projetos dêem certo na região Sul e não na Norte do País”, explica Cleuza Repulho. E completa: “procuramos sempre trabalhar com diversos temas. Seja desenvolvimento profissional de docentes, alfabetização, gestão democrática, políticas públicas locais, articulação com a sociedade, a família, a criança e o jovem, como no âmbito infantil, de jovens e adultos e educação para a construção da cultura de paz”.