07/04/2003 Undime
De cada dez alunos que ingressam na 1.ª série do Ensino Fundamental no Paraná, apenas quatro continuam estudando até terminar o Ensino Médio. A taxa de evasão, de 63,1%, é a mais alta das regiões Sul e Sudeste. O problema é particularmente preocupante no Ensino Médio, onde a evasão cresceu 38% entre 1995 e 2000. Os dados constam do estudo "Geografia da Educação Brasileira", divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação.
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Rubens Mendonça. (Rodolfo Bührer) De cada dez alunos que ingressam na 1.ª série do Ensino Fundamental no Paraná, apenas quatro continuam estudando até terminar o Ensino Médio. A taxa de evasão, de 63,1%, é a mais alta das regiões Sul e Sudeste. O problema é particularmente preocupante no Ensino Médio, onde a evasão cresceu 38% entre 1995 e 2000. Os dados constam do estudo "Geografia da Educação Brasileira", divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação.O estudo mostra que, embora ainda seja alta, a evasão no Ensino Fundamental (da 1.ª à 8.ª séries) vem caindo no Paraná. Em 1995, metade dos alunos que se matriculavam na 1.ª série paravam de estudar antes de chegar à 8.ª. Cinco anos depois, o percentual de desistentes caiu para 38,9%.Já no Ensino Médio, a evasão é crescente. Em 2000, o Paraná tinha a sétima maior taxa do País (28,5%), superior inclusive à média nacional, que é de 26%. Aparentemente, o aspecto negativo desses dados contrasta com outros indicadores. No ranking da qualificação de docentes, por exemplo, o Paraná ocupa o primeiro lugar, com 97,4% dos professores de Ensino Médio com formação superior.Outro ponto positivo: segundo o estudo do Inep, 97,4% dos alunos do Ensino Nédio paranaense estudam em escolas com biblioteca. O salário médio dos professores da educação básica no Paraná também não está entre os piores: em 2000, era de R$ 577,97 – a sétima maior média do País.Onde estariam, então, as razões para a elevada taxa de evasão? Entre as hipóteses levantadas pelos especialistas, a mais freqüente está relacionada à questão social: as pessoas desistem de estudar por falta de dinheiro. "Mesmo quem estuda numa escola pública precisa comprar o material mínimo, ter dinheiro para o ônibus e para um lanche. Com o aumento do desemprego, isso ficou impossível para muita gente", diz a professora Ileizi Fiorelli Silva, da disciplina de Sociologia da Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL).O processo de universalização do Ensino Médio, acelerado nos últimos anos, pode ter contribuído para o aumento da evasão. No Paraná, entre 1995 e 2002, o número de matriculados aumentou de 352 mil para 463 mil, em grande parte pelo acesso de pessoas de renda mais baixa e, portanto, mais suscetíveis à evasão.A coordenadora do curso de Pedagogia do Unicenp, Helena Leomir de Souza Bartnik, levanta outra hipótese: a forma como os conteúdos são tratados na escola. "Em muitos casos, falta uma pedagogia problematizadora, que estimule o aluno", diz. Ela também inclui entre as possíveis causas a ênfase dada pelas escolas às disciplinas básicas. "Muitos dos nossos alunos querem cursos profissionalizantes, com conteúdos que possam aplicar diretamente numa profissão. Para esses, o Ensino Médio pode ser desestimulante", diz.A professora Ileizi Silva, da UEL, também acredita que o fim dos antigos cursos profissionalizantes foi determinante para o aumento da evasão: "Esses cursos prendiam o aluno na escola." Outro problema apontado por ela é a falta de uma fonte de financiamento segura para esse nível de formação no Brasil. "De 1.ª a 8.ª série, temos o Fundef, mas o Ensino Médio foi abandonado", diz. A redução na carga horária destinada a disciplinas como Artes e Educação Física seria outro fator. "A escola ficou pobre. Essas disciplinas são atraentes para o aluno", diz Ileizi.A professora da UEL diz que a maioria dos problemas se repete no Brasil todo, mas aponta uma particularidade no Paraná que, no entendimento dela, está na raiz do problema da evasão: a forma como as reformas na educação foram aplicadas aqui. "Ao lado de Minas Gerais, o Paraná foi o estado que primeiro se dispôs a acatar as propostas originadas no Banco Mundial, como o fim do Ensino Profissionalizante. Na ânsia de conseguir recursos, o estado fez isso sem nenhuma reflexão crítica", afirma.Família"Meu pai era caminhoneiro e mantinha a família. Mas, depois que passou dos 50 anos, não conseguiu mais encontrar emprego. Comecei a puxar carrinho para sustentar ele e minha mãe. Por isso, parei de estudar na 3.ª série do Ensino Fundamental. Eu também tinha problemas na escola, o que me fez perder um pouco da vontade de estudar. Uma vez quase fui expulso, por causa de briga."Emprego"Parei de estudar em 2000, quando estava começando o 1.º ano do Ensino Médio. Surgiu uma boa oportunidade de serviço (balconista) e eu também não estava me dando muito bem na escola. Os professores faziam prova sem avisar e cobravam coisas que a gente não tinha entendido direito. Agora, sou casada e trabalho das 9 às 19 horas. Por isso, ficou mais difícil voltar a estudar."Arrependimento"Terminei a 8.ª série há três anos e depois disso tive que parar de estudar. Faltou tempo, porque comecei a trabalhar. Agora eu vejo como faz falta o estudo, mas ficou difícil voltar para a escola. Hoje, eu já tenho família e não posso parar de trabalhar, pois preciso sustentar minha mulher e minha filha, que tem apenas dois anos."