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11/02/2003 Undime

Curso aproxima brancos e indígenas

A Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por meio do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa, vai realizar, no mês de março, o curso “Língua e Cultura Tukano”, ministrado pelo pajé Tukano Gabriel dos Santos Gentil. O curso será realizado por semana, durante dois meses. Serão oferecidas 15 vagas. As aulas começam em 16 de março. O custo é de R$ 30 por aluno, como taxa de inscrição.

O curso “Língua e Cultura Tukano” faz parte do projeto que leva o mesmo nome, produzido pelo professor Giancarlo Stefani, do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa da Ufam, e prevê a compreensão da cultura e o aprendizado Tukano como uma forma de aproximar o conhecimento ministrado pela Ufam das culturas tradicionais. No projeto, Giancarlo justifica: “O conhecimento da cultura indígena, que é uma evidente lacuna de uma universidade situada na Amazônia, tem sido apontado freqüentemente nos seminários e discursos avaliativos desta instituição”.

“O pajé vai se basear no livro que escreveu, ‘Mitologia Tukano’. O curso vai ser praticamente cultural, vai explicar a cultura desse povo. Do ponto de vista lingüístico, ele vai desenvolver de acordo com a sua gramática Tukano”, explicou Stefani.

O curso faz parte do projeto que prevê o contato direto com os indígenas. “Nós não queremos apenas ouvir o discurso de professores que estudam e pesquisam. Vamos ouvir os índios, que não deveriam ser o objeto de pesquisa, mas sim os interlocutores”, disse Giancarlo.

O curso será aplicado a partir das 18h no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e terá duração de 32 horas. A princípio, a idéia era utilizar também a figura de uma mulher para poder exemplificar melhor a linguagem. “O Gabriel vai explicar sobre suas lendas, história, rituais com a ajuda de uma mulher Tukano”, disse o professor.

De acordo com Gabriel Gentil, o mais novo pajé de sua tribo, localizada em Pari-Cachoeira, no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus, em linha reta), o homem branco só conhece os aprendizados oriundos dos povos europeus. “Ele só conhece a religião, o costume e a língua do europeu. Eu vou ensinar em dois sentidos. Na minha aldeia Tukano, sempre passam professores da universidade e outros pesquisadores brancos. Eles vêm para conhecer os pajés e curadores. Eu sempre pergunto se eles vêm procurar o que eles querem saber. Mas eu vejo que, da Amazônia, eles só sabem o que tem nos livros. Na prática, não conhecem nada. Diante disso, eu sou grande na minha cultura”, disse Gabriel.

O pajé exemplificou o que disse usando os aspectos da biodiversidade da Amazônia. “O que tem mais vida: a planta que utilizamos ou aquela é estudada através dos livros?”, questionou.

No conteúdo programático do curso, Gabriel vai explicar a história, as músicas, a cerimônia e as palavras mais fortes da língua Tukano. “Vou falar dos Aruaque, os indígenas que nós chamamos de ‘Gente de Pedra’. Foi deles que nós aprendemos a nossa língua”, disse Gabriel.

Gabriel disse que os alunos não vão precisar utilizar equipamentos modernos. “Vou ensinar a coisa ‘oral’. Eles não vão ter que usar gravador, filmagem, lápis e papel. Vou usar o tabaco, para fazer cerimonial forte; o Pariká, para receber as visões e curar as doenças; as bebidas Ayawascas para abrir as visões da natureza”, disse o pajé, que é autor de cinco livros.


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