Sistema tradicional de ensino não respeita cultura indígena
“Uma educação feita através de danças, mitos, da língua local, respeitando as tradições e preservando a cultura do povo indígena. Um educar diferente, que muitas vezes não cabe na escola regular”. Assim deveria ser a educação indígena, para Daniel Munduruku, escritor, diretor-presidente do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI) e índio da tribo Mundukuru. “Mas infelizmente a educação indígena hoje é apenas uma reprodução daquilo que a cidade aprende e faz, deixando o aprendizado do índio muitas vezes deslocado e descontextualizado da sua realidade”, lamenta Mundukuru. Segundo ele, a Constituição de 1988 prevê ao índio o direito a uma educação diferenciada, entretanto, o sistema tradicional acaba prevalecendo.
Três artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394, de 1996, prevêem como dever do Estado oferecer educação indígena de modo a garantir a especificidade do modelo de educação intercultural. “De um lado tem a lei, do outro a prática. Nem sempre são atingidos todos os direitos que a Constituição concebe”, completa. Para o diretor-presidente do INBRAPI, o grande problema é enfrentar a burocracia, pois ela cria uma série de dificuldades por não levar em conta como as sociedades indígenas vivem. Dessa forma, o ensino levado para a aldeia é o da escola tradicional, com todos os traços da cidade, carregados de influências.
O lugar das diferenças - De acordo com dados do Censo Escolar de 2005, no Brasil há 2.419 escolas indígenas. E nesse contexto a escola tem sido a grande modificadora da sociedade indígena por não preservar os valores locais. “Antigamente colocavam na mesma sala diversos povos indígenas, que não se conheciam, que não tinham o mesmo costume, para evitar a língua local e se falar o português”, conta o índio Mundukuru. Mundukuru também cita alguns exemplos das dificuldades que o índio passa com o ensino tradicional. O planejamento é uma delas. “Na lógica indígena não faz o menor sentido planejar. A ordem das coisas é a ordem natural. É uma vivência não planejada, e sim vivida.
A lógica do tempo é um tema complicado, pois os índios não possuem a técnica que domina o tempo. Eles vivem no presente, no hoje, no agora. Também vivem de passado, da memória, mas nunca de futuro”, explica. Outro grande equívoco cometido é o julgamento da figura indígena. Muitas pessoas enxergam no índio um ser preguiçoso. “Isso é um absurdo. O fazer do indígena acontece a partir da necessidade e por isso muitas vezes é mal compreendido e visto como ocioso”, completa. De acordo com Mundukuru, a instituição de ensino se fez mais presente na terra indígena para transformar os índios em “gente”, em “civilização”. “Nesse momento a escola deixa de ser uma educadora e passa a ser um aparelho para o Estado. A escola tem que trazer a educação e não vir para transformar o índio em gente, pois desse jeito o índio vira indigente”, finaliza.
A figura do educador - Para a socióloga e professora Maria do Carmo Santos Domite, o problema é que o educador da escola indígena não está inserido no mesmo contexto que os próprios índios. “É um grande desafio para nós educadores, temos grandes dificuldades em enxergar como eles pensam. É um pensar diferente, uma questão de cultura e ética.” “O perigo está na atuação do formador, formar de certa forma é transformar e essa é a nossa maior dificuldade”, comenta a professora.
Segundo ela, para diminuir as diferenças, a solução seria a capacitação dos próprios índios para atuarem como educadores em suas comunidades. Para isso, Maria do Carmo ouviu muitas tribos e desenvolveu um projeto no qual pretende preservar a cultura indígena na hora da educação. “O primeiro passo é trabalhar com a cultura local, como o artesanato, a pesca e a língua. Ouvir o que o grupo deseja e considera relevante para o ensino é outro passo de extrema importância, para atender as necessidades da comunidade.”
“Uma educação feita através de danças, mitos, da língua local, respeitando as tradições e preservando a cultura do povo indígena. Um educar diferente, que muitas vezes não cabe na escola regular”. Assim deveria ser a educação indígena, para Daniel Munduruku, escritor, diretor-presidente do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI) e índio da tribo Mundukuru. “Mas infelizmente a educação indígena hoje é apenas uma reprodução daquilo que a cidade aprende e faz, deixando o aprendizado do índio muitas vezes deslocado e descontextualizado da sua realidade”, lamenta Mundukuru. Segundo ele, a Constituição de 1988 prevê ao índio o direito a uma educação diferenciada, entretanto, o sistema tradicional acaba prevalecendo.Três artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394, de 1996, prevêem como dever do Estado oferecer educação indígena de modo a garantir a especificidade do modelo de educação intercultural. “De um lado tem a lei, do outro a prática. Nem sempre são atingidos todos os direitos que a Constituição concebe”, completa. Para o diretor-presidente do INBRAPI, o grande problema é enfrentar a burocracia, pois ela cria uma série de dificuldades por não levar em conta como as sociedades indígenas vivem. Dessa forma, o ensino levado para a aldeia é o da escola tradicional, com todos os traços da cidade, carregados de influências. O lugar das diferenças - De acordo com dados do Censo Escolar de 2005, no Brasil há 2.419 escolas indígenas. E nesse contexto a escola tem sido a grande modificadora da sociedade indígena por não preservar os valores locais. “Antigamente colocavam na mesma sala diversos povos indígenas, que não se conheciam, que não tinham o mesmo costume, para evitar a língua local e se falar o português”, conta o índio Mundukuru. Mundukuru também cita alguns exemplos das dificuldades que o índio passa com o ensino tradicional. O planejamento é uma delas. “Na lógica indígena não faz o menor sentido planejar. A ordem das coisas é a ordem natural. É uma vivência não planejada, e sim vivida. A lógica do tempo é um tema complicado, pois os índios não possuem a técnica que domina o tempo. Eles vivem no presente, no hoje, no agora. Também vivem de passado, da memória, mas nunca de futuro”, explica. Outro grande equívoco cometido é o julgamento da figura indígena. Muitas pessoas enxergam no índio um ser preguiçoso. “Isso é um absurdo. O fazer do indígena acontece a partir da necessidade e por isso muitas vezes é mal compreendido e visto como ocioso”, completa. De acordo com Mundukuru, a instituição de ensino se fez mais presente na terra indígena para transformar os índios em “gente”, em “civilização”. “Nesse momento a escola deixa de ser uma educadora e passa a ser um aparelho para o Estado. A escola tem que trazer a educação e não vir para transformar o índio em gente, pois desse jeito o índio vira indigente”, finaliza. A figura do educador - Para a socióloga e professora Maria do Carmo Santos Domite, o problema é que o educador da escola indígena não está inserido no mesmo contexto que os próprios índios. “É um grande desafio para nós educadores, temos grandes dificuldades em enxergar como eles pensam. É um pensar diferente, uma questão de cultura e ética.” “O perigo está na atuação do formador, formar de certa forma é transformar e essa é a nossa maior dificuldade”, comenta a professora. Segundo ela, para diminuir as diferenças, a solução seria a capacitação dos próprios índios para atuarem como educadores em suas comunidades. Para isso, Maria do Carmo ouviu muitas tribos e desenvolveu um projeto no qual pretende preservar a cultura indígena na hora da educação. “O primeiro passo é trabalhar com a cultura local, como o artesanato, a pesca e a língua. Ouvir o que o grupo deseja e considera relevante para o ensino é outro passo de extrema importância, para atender as necessidades da comunidade.”