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21/04/2003 Undime

Seminário discute discriminação racial

A discriminação contra os negros é uma realidade no Brasil? A resposta, segundo a maioria dos estudiosos do assunto, é sim, embora o racismo seja disfarçado no país. Mais do que antes, o racismo contra negros e as políticas públicas voltadas para essa população têm sido discutidas, motivada pela questão das cotas para afrodescendentes em algumas universidades públicas.

Em Salvador, as liminares concedidas para estudantes brancos que se sentiram lesados por terem ficado de fora enquanto a população ficou com 40% das vagas da universidade são provas suficientes de que o racismo só precisa de um motivo forte para mostrar a sua cara.

Esse é um dos principais motivadores para o seminário Políticas Públicas para o Povo Negro - Rompendo Barreiras, que estará acontecendo entre os dias 23 e 25, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). O evento faz parte das atividades do curso de extensão de Direitos Humanos: raça e discriminação/Unicidadania. O objetivo é ampliar a discussão em torno da violação dos direitos humanos no país "na perspectiva de que essa violência utiliza os critérios de cor/raça para incluir ou excluir pessoas e grupos sociais diferenciados", disse a coordenadora pedagógica do curso de extensão, Eliane Boa Morte.

Ela deixa claro que, quando se trata de políticas públicas, o universo é muito maior do que somente as cotas. Porém, os últimos acontecimentos têm se transformado num gancho para ampliar o assunto. "O descontentamento de alguns é porque as cotas vieram para mexer com os espaços de poder, que já se encontram cristalizados. E quando a gente mexe na Constituição e vê que todos têm direitos iguais, percebe que a lei é uma coisa, e o acesso é outra".

 Em Salvador, por exemplo, onde mais de 80% da população é afrodescendente, segundo o IBGE, seria de se esperar que, por ser maioria étnica, também fossem a maioria nas universidades, nos cargos de poder Executivo e outras instâncias. Mas, não é isso que acontece. A história de discriminação não permitiu ao negro um espaço justo na sociedade.

"A reação das pessoas e as liminares concedidas pelos juízes nos pegaram de surpresa. Porque só negros vivem à margem da sociedade, e como a universidade é um espaço de elite, as pessoas se sentem ameaçadas. É falta de compreensão dessas pessoas sobre a importância das cotas para a melhoria do país", disse Ivonei Pires, coordenador municipal do Movimento Negro Unificado (MNU).

Embora entenda as cotas como importantes nesse momento, Ivonei acredita que nada mudará se o ensino público não for melhorado. Afinal, a maior parte dos negros é pobre e freqüenta as escolas públicas. O Inep comemora a inclusão e número de matrículas, mas a realidade diária é bem diferente. Para a professora Eliane Boa Morte, "o ensino público, por si só, tem de mudar. O professor já está sem formação adequada, ganha pouco, e a escola não tem nenhum atrativo".


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