12/01/2004 Undime
Quase 20% dos estudantes da 8ª série do Ensino Fundamental no Pará não são bons leitores. Suas habilidades de leitura estão muito abaixo das exigidas pela série ou eles não demonstram sequer as habilidades de leitura exigidas para alunos com dez anos de idade. É o que mostra a pesquisa "Qualidade da Educação: Uma Nova Leitura do Desempenho dos Estudantes da 8ª Série do Ensino Fundamental". Divulgada no mês passado, ela faz parte dos dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) do Ministério da Educação (MEC).
O Saeb é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e acompanha a qualidade da educação oferecida no Brasil desde 1990, mediante a avaliação do conhecimento e das habilidades e competências adquiridas e desenvolvidas pelos alunos. O trabalho foi feito entre 5.126 alunos da 8ª dos 73.896 matriculados nas redes pública e particular em 2001. A análise dos resultados dos testes, aplicados em Língua Portuguesa e Matemática, revela um quadro de ineficiência e de profundas defasagens na construção de habilidades e competências entre os alunos.
Em Língua Portuguesa, 1,9% estão no estágio muito crítico, 17,79% estão no estágio crítico, 74,28% no intermediário, e o número de estudantes nos estágios adequado e avançado não chega a 1% . Isso significa que mais de 90% dos alunos não alcançaram o estágio adequado e, portanto, não lêem mais que textos simples, informativos, gráficos e tabelas simples ou outros textos de baixa complexidade. Em Matemática, o resultado é até pior. A maioria dos alunos, 58,6%, encontra-se no estágio crítico, contra 0,7% que se situam no estágio adequado. Somando os percentuais dos estágios muito crítico, crítico e intermediário, é possível concluir que quase a totalidade dos alunos de 8ª série no Pará não conseguiram atingir o nível adequado, estando, portanto, aquém do nível exigido para a sua série correspondente.
São alunos que não interpretam e nem resolvem problemas de forma competente e, portanto, não fazem o uso correto da linguagem matemática. Ou seja, a maioria interpreta os problemas de forma elementar, mas não consegue transpor o que está sendo pedido no enunciado para uma linguagem matemática específica.
Os indicadores de aprendizagem gerados pelo Saeb para os concluintes do ensino fundamental mostram que o sistema educacional tem se mostrado pouco efetivo.
Etapas são queimadas sem que estudantes adquiram as habilidades necessárias
Para explicar índices tão negativos, a diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Justo Chermont, Graça Lima, avalia que os números da 8ª série só representam a conseqüência de séries anteriores. "Os alunos vão atropelando a aquisição e domínio de habilidades de leitura e escrita. A cada etapa que passa, as dificuldades são mais acirradas. Temos casos de alunos que estão na 5ª série e não conseguem ler uma palavra inteira. Não conseguem sequer pronunciá-las", diz.
Na prática, ela comenta que o problema começa na alfabetização, quando as séries iniciais deveriam trabalhar com mais eficiência. "Quando se fala em leitura, é o entendimento do texto e seu resultados práticos para a vida do aluno. Um exemplo simples é que temos um quadro de aviso na entrada da escola, onde os alunos lêem o que é está escrito, mas vem logo em seguida aqui na sala perguntar novamente o que aquilo siginifica. Querem logo a resposta, não estão acostumados a compreender", ressalta.
Na escola com 600 alunos na 8ª série, a questão é tão séria que os próprios professores das duas disciplinas desenvolvem trabalhos de pesquisa na tentativa de superar o problema. O trabalho passa pelo uso de recursos pedagógicos, como laboratórios, para acabar com o mito do bicho-papão da matemática, por exemplo. Para Glória, os resultados têm sido satisfatório, ao menos do ponto de vista quantitativo. Há dois anos, informou, o nível de repetência nas duas disciplinas na série era de 30% a 40%. Com essa prática, conseguiram reduzir o índice para 10%. A diretora também cobra dos pais participação no trabalho que ela considera uma ação conjunta.
Mas a melhora na quantidade de alunos aprovados não refletiu em suas notas. Para Norma Ponzi, funcionária da escola responsável pelo acompanhamento de notas e documentação dos alunos da 8ª série, na média o desempenho é muito ruim, um fracasso. Numa única turma de 35 alunos, a caderneta do professor só registrou uma nota acima de nove ao longo de todo o ano passado em Língua Portuguesa. "A média mesmo é 5. Acho que o motivo disso é que há muita chance. O aluno fica na dependência e não estão nem ai. Alguns repetem a dependência mais de uma vez", argumenta.
Para Ana Virgínia Varede, diretora pegagógica do Colégio Ideal, onde 300 alunos estavam na 8ª na época da pesquisa, os números do Saeb mostram que o processo de avaliação cumulativo não funciona e que o aprendizado deve ir além de uma seqüência de assuntos seguidos e distantes da realidade do aluno. Sua formação, diz, deve procurar caminhos que dêem a ele capacidade para desenvolver seu senso crítico, sua reflexão diante das diferenças como forma de trabalhar suas competências e habilidades.
Português - Em Língua Portuguesa, 98% dos estudantes com desempenho muito crítico estão em escolas da rede pública e cerca de 62% apresentam distorção idade-série. E quase 70% declararam que trabalham. Quanto à escolaridade de suas mães, 17% delas nunca estudaram, 34% têm no máximo quatro anos de escolaridade e um quarto têm no máximo oito anos de escolaridade. Dos alunos que alcançaram o estágio adequado em Língua Portuguesa, 55,64% estão matriculados em escolas públicas, e os restantes 44,36% em escolas particulares. São alunos que em sua maioria estão com a idade certa para a série: 8% . Cerca de 10% disseram trabalhar, bem dos percentuais dos
estágios do outro extremo das categorias de desempenho. Entre suas mães, 29% estudaram 11 anos e 31% chegaram ao 3º grau.
Matemática segue o mesmo perfil. Entre os que apresentaram desempenho muito crítico, 98% são matriculados na rede pública, cerca de 62% têm idade acima da adequada para a 8 a série, que é de 15 anos. Quase 60% estão envolvidos em alguma forma de trabalho. A escolaridade média das mães é baixa: 12% não estudaram e 41% freqüentaram a escola por, no máximo, quatro anos. Dos que alcançaram o estágio adequado, um quarto cursou a rede pública e 74% a particular. São estudantes cujas mães tiveram maior acesso à educação, pois 29% delas têm o ensino médio e 52%, o superior.
Redação - Se os dados do Saeb mostram que os resultados qualitativos na reta final do ensino fundamental são pífios, suas conseqüências acompanham o estudante pelo resto da vida. Uma prova é o desempenho na redação dos vestibulares. A professora do curso de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretora do Departamento de Apoio ao Vestibular (Daves), Célia Brito reforça o coro da orientação equivocada que as escolas, de uma forma geral, aplicam no ensino das duas disciplinas.
Desempenho crítico em Português
Em Língua Portuguesa, os estudantes de desempenho classificado como muito crítico estão, em sua ampla maioria (98%), matriculados em escolas da rede pública; cerca de 62% apresentam distorção idade-série. Há um percentual expressivo (68%) de alunos que declararam que trabalham. A escolaridade das mães desses alunos é baixa: cerca de 17% delas nunca estudaram, 34% têm no
máximo quatro anos de escolaridade e pouco mais de 25% têm no máximo oito anos de escolaridade.
Dos alunos que alcançaram o estágio adequado em Língua Portuguesa, 55,64% estão matriculados na escola pública, e os restantes 44,36%, na escola particular. O percentual dos que apresentam distorção idade/série é de 8%, bem menor, portanto, que o dos que estão no estágio muito crítico.
Entre os estudantes nesse estágio, cerca de 10% trabalham, um contingente bem abaixo, portanto, do que entre os estágios do outro extremo das categorias de desempenho. Tais estudantes são filhos de mães com escolaridade média muito mais significativa em termos de anos de escolaridade. Cerca de 29% delas atingiram onze anos de escolaridade e 31% alcançaram o 3º grau.
As características dos estudantes no mais baixo estágio de desempenho e no estágio adequado em Matemática não diferem das que foram apresentadas para Língua Portuguesa.
Entre os que apresentaram desempenho muito crítico, 98% são matriculados na rede pública, cerca de 62% têm idade acima da adequada para a 8 a série, que é de 15 anos. A maioria (59%) está envolvida em alguma forma de trabalho. A escolaridade média das mães é baixa, pois 12% delas não tiveram a oportunidade de estudar e 41% freqüentaram a escola por, no máximo, quatro anos.
No extremo oposto, ou seja, o daqueles que alcançaram o estágio adequado de aquisição de habilidades e conhecimentos, cerca de 25% distribuem-se pela rede pública e 74%, pela particular; 8% estão com idade acima da adequada para a série; menos de 5% trabalham. São estudantes cujas mães tiveram maior acesso à educação, pois 29% delas têm o ensino médio e 52%, o superior. "A
escola, por tradição, não se volta ao estudo da língua para a produção de textos. Tem-se preocupado mais em ensinar aspectos descritivos e normativos da língua", avalia.
Quase 20% dos estudantes da 8ª série do Ensino Fundamental no Pará não são bons leitores. Suas habilidades de leitura estão muito abaixo das exigidas pela série ou eles não demonstram sequer as habilidades de leitura exigidas para alunos com dez anos de idade. É o que mostra a pesquisa "Qualidade da Educação: Uma Nova Leitura do Desempenho dos Estudantes da 8ª Série do Ensino Fundamental". Divulgada no mês passado, ela faz parte dos dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) do Ministério da Educação (MEC).O Saeb é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e acompanha a qualidade da educação oferecida no Brasil desde 1990, mediante a avaliação do conhecimento e das habilidades e competências adquiridas e desenvolvidas pelos alunos. O trabalho foi feito entre 5.126 alunos da 8ª dos 73.896 matriculados nas redes pública e particular em 2001. A análise dos resultados dos testes, aplicados em Língua Portuguesa e Matemática, revela um quadro de ineficiência e de profundas defasagens na construção de habilidades e competências entre os alunos.Em Língua Portuguesa, 1,9% estão no estágio muito crítico, 17,79% estão no estágio crítico, 74,28% no intermediário, e o número de estudantes nos estágios adequado e avançado não chega a 1% . Isso significa que mais de 90% dos alunos não alcançaram o estágio adequado e, portanto, não lêem mais que textos simples, informativos, gráficos e tabelas simples ou outros textos de baixa complexidade. Em Matemática, o resultado é até pior. A maioria dos alunos, 58,6%, encontra-se no estágio crítico, contra 0,7% que se situam no estágio adequado. Somando os percentuais dos estágios muito crítico, crítico e intermediário, é possível concluir que quase a totalidade dos alunos de 8ª série no Pará não conseguiram atingir o nível adequado, estando, portanto, aquém do nível exigido para a sua série correspondente.São alunos que não interpretam e nem resolvem problemas de forma competente e, portanto, não fazem o uso correto da linguagem matemática. Ou seja, a maioria interpreta os problemas de forma elementar, mas não consegue transpor o que está sendo pedido no enunciado para uma linguagem matemática específica.Os indicadores de aprendizagem gerados pelo Saeb para os concluintes do ensino fundamental mostram que o sistema educacional tem se mostrado pouco efetivo.Etapas são queimadas sem que estudantes adquiram as habilidades necessáriasPara explicar índices tão negativos, a diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Justo Chermont, Graça Lima, avalia que os números da 8ª série só representam a conseqüência de séries anteriores. "Os alunos vão atropelando a aquisição e domínio de habilidades de leitura e escrita. A cada etapa que passa, as dificuldades são mais acirradas. Temos casos de alunos que estão na 5ª série e não conseguem ler uma palavra inteira. Não conseguem sequer pronunciá-las", diz.Na prática, ela comenta que o problema começa na alfabetização, quando as séries iniciais deveriam trabalhar com mais eficiência. "Quando se fala em leitura, é o entendimento do texto e seu resultados práticos para a vida do aluno. Um exemplo simples é que temos um quadro de aviso na entrada da escola, onde os alunos lêem o que é está escrito, mas vem logo em seguida aqui na sala perguntar novamente o que aquilo siginifica. Querem logo a resposta, não estão acostumados a compreender", ressalta.Na escola com 600 alunos na 8ª série, a questão é tão séria que os próprios professores das duas disciplinas desenvolvem trabalhos de pesquisa na tentativa de superar o problema. O trabalho passa pelo uso de recursos pedagógicos, como laboratórios, para acabar com o mito do bicho-papão da matemática, por exemplo. Para Glória, os resultados têm sido satisfatório, ao menos do ponto de vista quantitativo. Há dois anos, informou, o nível de repetência nas duas disciplinas na série era de 30% a 40%. Com essa prática, conseguiram reduzir o índice para 10%. A diretora também cobra dos pais participação no trabalho que ela considera uma ação conjunta.Mas a melhora na quantidade de alunos aprovados não refletiu em suas notas. Para Norma Ponzi, funcionária da escola responsável pelo acompanhamento de notas e documentação dos alunos da 8ª série, na média o desempenho é muito ruim, um fracasso. Numa única turma de 35 alunos, a caderneta do professor só registrou uma nota acima de nove ao longo de todo o ano passado em Língua Portuguesa. "A média mesmo é 5. Acho que o motivo disso é que há muita chance. O aluno fica na dependência e não estão nem ai. Alguns repetem a dependência mais de uma vez", argumenta.Para Ana Virgínia Varede, diretora pegagógica do Colégio Ideal, onde 300 alunos estavam na 8ª na época da pesquisa, os números do Saeb mostram que o processo de avaliação cumulativo não funciona e que o aprendizado deve ir além de uma seqüência de assuntos seguidos e distantes da realidade do aluno. Sua formação, diz, deve procurar caminhos que dêem a ele capacidade para desenvolver seu senso crítico, sua reflexão diante das diferenças como forma de trabalhar suas competências e habilidades.Português - Em Língua Portuguesa, 98% dos estudantes com desempenho muito crítico estão em escolas da rede pública e cerca de 62% apresentam distorção idade-série. E quase 70% declararam que trabalham. Quanto à escolaridade de suas mães, 17% delas nunca estudaram, 34% têm no máximo quatro anos de escolaridade e um quarto têm no máximo oito anos de escolaridade. Dos alunos que alcançaram o estágio adequado em Língua Portuguesa, 55,64% estão matriculados em escolas públicas, e os restantes 44,36% em escolas particulares. São alunos que em sua maioria estão com a idade certa para a série: 8% . Cerca de 10% disseram trabalhar, bem dos percentuais dosestágios do outro extremo das categorias de desempenho. Entre suas mães, 29% estudaram 11 anos e 31% chegaram ao 3º grau.Matemática segue o mesmo perfil. Entre os que apresentaram desempenho muito crítico, 98% são matriculados na rede pública, cerca de 62% têm idade acima da adequada para a 8 a série, que é de 15 anos. Quase 60% estão envolvidos em alguma forma de trabalho. A escolaridade média das mães é baixa: 12% não estudaram e 41% freqüentaram a escola por, no máximo, quatro anos. Dos que alcançaram o estágio adequado, um quarto cursou a rede pública e 74% a particular. São estudantes cujas mães tiveram maior acesso à educação, pois 29% delas têm o ensino médio e 52%, o superior.Redação - Se os dados do Saeb mostram que os resultados qualitativos na reta final do ensino fundamental são pífios, suas conseqüências acompanham o estudante pelo resto da vida. Uma prova é o desempenho na redação dos vestibulares. A professora do curso de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretora do Departamento de Apoio ao Vestibular (Daves), Célia Brito reforça o coro da orientação equivocada que as escolas, de uma forma geral, aplicam no ensino das duas disciplinas.Desempenho crítico em PortuguêsEm Língua Portuguesa, os estudantes de desempenho classificado como muito crítico estão, em sua ampla maioria (98%), matriculados em escolas da rede pública; cerca de 62% apresentam distorção idade-série. Há um percentual expressivo (68%) de alunos que declararam que trabalham. A escolaridade das mães desses alunos é baixa: cerca de 17% delas nunca estudaram, 34% têm nomáximo quatro anos de escolaridade e pouco mais de 25% têm no máximo oito anos de escolaridade. Dos alunos que alcançaram o estágio adequado em Língua Portuguesa, 55,64% estão matriculados na escola pública, e os restantes 44,36%, na escola particular. O percentual dos que apresentam distorção idade/série é de 8%, bem menor, portanto, que o dos que estão no estágio muito crítico.Entre os estudantes nesse estágio, cerca de 10% trabalham, um contingente bem abaixo, portanto, do que entre os estágios do outro extremo das categorias de desempenho. Tais estudantes são filhos de mães com escolaridade média muito mais significativa em termos de anos de escolaridade. Cerca de 29% delas atingiram onze anos de escolaridade e 31% alcançaram o 3º grau.As características dos estudantes no mais baixo estágio de desempenho e no estágio adequado em Matemática não diferem das que foram apresentadas para Língua Portuguesa.Entre os que apresentaram desempenho muito crítico, 98% são matriculados na rede pública, cerca de 62% têm idade acima da adequada para a 8 a série, que é de 15 anos. A maioria (59%) está envolvida em alguma forma de trabalho. A escolaridade média das mães é baixa, pois 12% delas não tiveram a oportunidade de estudar e 41% freqüentaram a escola por, no máximo, quatro anos.No extremo oposto, ou seja, o daqueles que alcançaram o estágio adequado de aquisição de habilidades e conhecimentos, cerca de 25% distribuem-se pela rede pública e 74%, pela particular; 8% estão com idade acima da adequada para a série; menos de 5% trabalham. São estudantes cujas mães tiveram maior acesso à educação, pois 29% delas têm o ensino médio e 52%, o superior. "Aescola, por tradição, não se volta ao estudo da língua para a produção de textos. Tem-se preocupado mais em ensinar aspectos descritivos e normativos da língua", avalia.