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23/12/2002 Undime

O risco de associar fome e analfabetismo

Faz todo o sentido associar programas de alimentação a programas de alfabetização -- como o PT está propondo com o Fome Zero. O partido já levantou dados que mostram claramente essa relação: entre os miseráveis brasileiros (aqueles 46 milhões que vivem com menos de um dólar por dia), há 21% de analfabetos; no restante da população, o analfabetismo é de 9%.

O problema é que a proposta mais forte atualmente é uma que se propõe a alfabetizar jovens e adultos em três meses -- seguindo uma metodologia da deputada federal gaúcha Esther Grossi.

É sim possível alfabetizar um adulto em três meses -- o Alfabetização Solidária também mostrou isso. Mas e aí, o que acontece? Considera-se necessário estudar pelo menos quatro anos para se tornar realmente um usuário do mundo da leitura e da escrita; três meses não dão nem para o começo.

Tanto a fome como o analfabetismo são manifestações dos mesmos problemas: a exclusão social e a consequente pobreza.

A questão central, e que está sendo discutida dentro do próprio PT, é como superar essa exclusão. Se a estratégia para erradicar a fome já está gerando divergências - tem gente que defende dar alimentos, outros, vales, outros ainda, dar diretamente dinheiro -, a maneira de lidar com o analfabetismo gera mais polêmica, em um partido que já contou com educadores do porte de Paulo Freire. O temor dentro de certos setores do PT -- e na sociedade civil organizada -- é que a erradicação do analfabetismo seja dissociada de outras medidas necessárias para garantir que a alfabetização não fique só nisso. Assim, se o programa de erradicação da fome e do analfabetismo tiverem a intenção de realmente mudar o quadro de exclusão e pobreza no país, serão necessárias muitas outras ações além da simples distribuição de vales alimentação e da alfabetização rápida de milhões de jovens e adultos.


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