03/04/2003 Undime
Qual o lugar dos direitos das mulheres? É com o ''empoderamento'' das mulheres que a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) vem há muito trabalhando, pesquisando diferentes grupos de mulheres e mapeando formas de governabilidade na sociedade pública e civil.
Uma nova concepção de governabilidade é inaugurada quando é dado status de ministério à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vinculada à Presidência da República. E quando a ministra Emília Fernandes enfatiza a dupla feição que pretende imprimir à sua gestão: programas para igualdade e eqüidade social e ênfase em parcerias com outros órgãos governamentais, além de insistir na relação com a sociedade civil - conquista histórica do movimento de mulheres no Brasil.
Outra boa pista é o destaque dado no governo Lula ao Programa Fome Zero, ao combate à exploração sexual e o empenho em erradicar o analfabetismo em quatro anos, meta do Ministério da Educação. Em cada uma dessas frentes, as mulheres sofrem vitimização e podem aportar muito, quer em termos do capital cultural do movimento de mulheres, quer considerando suas vivências e seu papel estratégico.
No caso da fome, são as mulheres agentes básicos no plano de sustentação e organização da sobrevivência doméstica familiar. Já no campo da exploração sexual é o seu corpo a ''mercadoria'' traficada, podendo portanto contribuir muito para o combate de tal comércio.
O analfabetismo é tema sobre o qual mais refletimos, mas lembramos, fazendo eco a um acervo razoável de pesquisas, muitas promovidas pela Unesco, que uma mãe alfabetizada tem maior probabilidade de colaborar para a alfabetização dos filhos e para uma melhor qualidade de vida do grupo familiar. É um desafio acionar as mulheres como colaboradoras de programas de governo, como o Fome Zero, e não contribuir para as tradicionais divisões sexuais de trabalho e de poder - mulher cuidando de fazer comida versus homem administrando recursos, por exemplo.
Priorizamos o tema da alfabetização, de tanto destaque no mandato da Unesco desde 1946. Em 13 de fevereiro deste ano a Assembléia Geral das Nações Unidas inaugurou a Década da Alfabetização, delegando à Unesco sua coordenação geral. Na ocasião, o secretário geral, Kofi Annan, destacou que ''não há ferramenta mais efetiva para o desenvolvimento do que a educação de meninas, das jovens e das mulheres''.
No mundo, um em cada cinco adultos não sabe ler e escrever. Cerca de dois terços dos analfabetos são mulheres (861 milhões são mulheres adultas e 113 milhões, meninas). O caso do Brasil pede uma leitura mais atenta. Há expressivas diferenças entre mulheres, e também entre homens, ao se considerar raça e cor.
Do total de analfabetas, 550 mil estariam entre 15 a 24 anos e, entre essas, cerca de 389 mil são jovens mulheres negras. Note-se que a grande maioria - cerca de 88% - das mulheres analfabetas tem mais de 30 anos. Alfabetização é mais do que saber ler e escrever, é a porta de entrada para a participação democrática, a construção da cidadania.
Jorge Werthein é representante, no Brasil, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
Qual o lugar dos direitos das mulheres? É com o ''empoderamento'' das mulheres que a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) vem há muito trabalhando, pesquisando diferentes grupos de mulheres e mapeando formas de governabilidade na sociedade pública e civil. Uma nova concepção de governabilidade é inaugurada quando é dado status de ministério à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vinculada à Presidência da República. E quando a ministra Emília Fernandes enfatiza a dupla feição que pretende imprimir à sua gestão: programas para igualdade e eqüidade social e ênfase em parcerias com outros órgãos governamentais, além de insistir na relação com a sociedade civil - conquista histórica do movimento de mulheres no Brasil. Outra boa pista é o destaque dado no governo Lula ao Programa Fome Zero, ao combate à exploração sexual e o empenho em erradicar o analfabetismo em quatro anos, meta do Ministério da Educação. Em cada uma dessas frentes, as mulheres sofrem vitimização e podem aportar muito, quer em termos do capital cultural do movimento de mulheres, quer considerando suas vivências e seu papel estratégico. No caso da fome, são as mulheres agentes básicos no plano de sustentação e organização da sobrevivência doméstica familiar. Já no campo da exploração sexual é o seu corpo a ''mercadoria'' traficada, podendo portanto contribuir muito para o combate de tal comércio. O analfabetismo é tema sobre o qual mais refletimos, mas lembramos, fazendo eco a um acervo razoável de pesquisas, muitas promovidas pela Unesco, que uma mãe alfabetizada tem maior probabilidade de colaborar para a alfabetização dos filhos e para uma melhor qualidade de vida do grupo familiar. É um desafio acionar as mulheres como colaboradoras de programas de governo, como o Fome Zero, e não contribuir para as tradicionais divisões sexuais de trabalho e de poder - mulher cuidando de fazer comida versus homem administrando recursos, por exemplo. Priorizamos o tema da alfabetização, de tanto destaque no mandato da Unesco desde 1946. Em 13 de fevereiro deste ano a Assembléia Geral das Nações Unidas inaugurou a Década da Alfabetização, delegando à Unesco sua coordenação geral. Na ocasião, o secretário geral, Kofi Annan, destacou que ''não há ferramenta mais efetiva para o desenvolvimento do que a educação de meninas, das jovens e das mulheres''. No mundo, um em cada cinco adultos não sabe ler e escrever. Cerca de dois terços dos analfabetos são mulheres (861 milhões são mulheres adultas e 113 milhões, meninas). O caso do Brasil pede uma leitura mais atenta. Há expressivas diferenças entre mulheres, e também entre homens, ao se considerar raça e cor. Do total de analfabetas, 550 mil estariam entre 15 a 24 anos e, entre essas, cerca de 389 mil são jovens mulheres negras. Note-se que a grande maioria - cerca de 88% - das mulheres analfabetas tem mais de 30 anos. Alfabetização é mais do que saber ler e escrever, é a porta de entrada para a participação democrática, a construção da cidadania. Jorge Werthein é representante, no Brasil, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)