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19/01/2004 Undime

Informação ao alcance de todos no município de Piraí

Livro é sinônimo de conhecimento, de registro imortal da história e imaginação humana, de comunicação entre épocas distantes. Informação a que todos deveriam ter acesso. Foi pensando nisso que, há quase quatro anos, a Fundação Banco do Brasil, em parceria com o Ministério do Trabalho, decidiu investir na construção de três bibliotecas em distritos no município do
interior fluminense de Piraí. Arrozal, Santanésia e Varjão receberam seus respectivos Celeiros das Letras, com o objetivo não apenas de proporcionar um espaço para leitura e pesquisa, mas despertar o interesse pela literatura e cultura em geral.

O pontapé inicial foi dado pela Fundação e pelo Ministério do Trabalho, que custearam todas as obras. A União ficou encarregada da aquisição de acervo e móveis, enquanto a Prefeitura de Piraí se prontificou em agilizar a liberação dos terrenos. Hoje, as bibliotecas recebem centenas de pessoas por mês, sendo a de maior freqüência a de Arrozal, com cerca de 300 visitas mensais. "Abrir um espaço cultural é sempre um progresso. A democratização da informação estimulou muito a leitura por aqui", explica Maria Dalva Ferreira e Silva, chefe de divisão de Cultura de Piraí, que aproveita para citar um mestre da literatura infanto-juvenil brasileira, Monteiro Lobato, ao expressar a importância que ela atribui ao projeto: "Um país se faz com homens e livros".

Nas prateleiras do Celeiro das Letras de Arrozal, desfilam autores dos mais variados estilos e gêneros. Jorge Amado, Josué Montello, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Rubem Fonseca estão agora ao alcance de estudantes, trabalhadores e mesmo de crianças, que desde cedo começam a tomar gosto pela língua escrita. É o caso da tímida, porém sorridente, Elaine da Costa, que não se deixa fotografar de jeito nenhum. Esconde-se atrás da bibliotecária Carla Ferreira, com um sorriso sapeca, e diz que não gosta de aparecer. Mas de escrever gosta. Ou melhor, adora.

Primeiros passos na poesia

Em casa, a pequena poetisa guarda um caderno cheio de prosa e versos que costuma criar nas horas vagas. Com apenas 11 anos, e cursando a quinta série, Elaine vai à biblioteca buscar inspiração de autores como Manuel Bandeira, Drummond, dentre outros. Depois de hesitar por um momento, ela
aceita recitar um de seus versos: "O amor é para sempre, aonde quer que esteja seu pensamento". Além dos poemas, Elaine se interessa por História Universal. Quer saber tudo que aconteceu até os tempos atuais. "Antes eu não tinha nenhum lugar para ler, nem livros para conhecer. Quase todo dia venho aqui ler alguma coisa. Meu irmão também vem sempre. É muito bom poder conhecer coisas do mundo todo. Mas quando crescer, não quero fazer poesia. Só por prazer. Quero é ser estilista", diz a menina, abrindo mais uma vez o sorriso que não permite às lentes registrar.

Outro estudante, Roberto Baptista, de 17 anos, prefere os romances e acredita que a leitura pode lhe dar a base para um futuro melhor. "Ler é conhecimento e diversão. Meu livro preferido é No ano passado, de Lannoy Doring, pois é uma obra de ficção que trata de temas com os quais a gente
tem contato na vida real, como Aids e drogas. A criação desse espaço realmente ajudou muito, principalmente nos trabalhos da escola", diz Baptista. De fato, a bibliotecária Carla confirma: "A maior procura realmente é pelas enciclopédias, fundamentais para as tarefas do colégio."

Mais que um mero espaço para leitura

Contudo, o objetivo das bibliotecas não é meramente proporcionar um espaço de pesquisa. Há muito mais. Palestras para conscientizar sobre a importância do exercício da leitura e estimular a abordagem de temas como saúde, higiene, prevenção de doenças e campanhas antidrogas também fazem parte da agenda dos Celeiros das Letras.

Além disso, para que a administração e as decisões a respeito do projeto não excluíssem os moradores, foi criada em cada distrito uma Sociedade Civil de Bibliotecas Públicas de Leitura. Cada uma delas tem também um Conselho de Política de Leitura, que gerencia as atividades dos espaços e tem, entre seus membros, representantes de todos os segmentos da sociedade local.

Vice-presidente do conselho do Celeiro das Letras de Arrozal, Marcelo Steter se anima ao comentar a freqüência da biblioteca e comemora as recentes parcerias com os comerciantes do distrito. "Temos mais de 3 mil visitantes por ano", explica Marcelo que, aos 42 anos, cursa o primeiro ano do 2º Grau.

A criação da biblioteca em Arrozal o fez voltar para a escola depois de 20 anos. "Larguei tudo há muito tempo. Antes ninguém tinha onde pesquisar, saber de nada. Isso desanima qualquer um. Resolvi voltar a estudar por causa desse espaço. E alguns dos meus parentes também voltaram para as salas de aula. Foi um incentivo muito grande. Mudou minha vida", analisa.

Mas Marcelo não está satisfeito. Diz que ainda há pessoas no município que precisam ser atraídas para a leitura e persiste na luta para conseguir tornar realidade a idéia das bibliotecas", diz otimista, e se apressa em completar: "Acesso à informação é essencial para o desenvolvimento de
qualquer cidadão".

Tais iniciativas se tornam realidade graças à Fundação Banco do Brasil e ao Ministério do Trabalho, que estão promovendo uma pequena transformação social no interior fluminense, com os Celeiros das Letras.


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