14/04/2003 Undime
O ofício de ensinar, base de toda e qualquer política nacional de desenvolvimento, poderá entrar em pouco mais de uma década na lista das profissões ameaçadas de extinção. As condições precárias de trabalho e remuneração, a violência nas escolas e a crescente queda de prestígio social estão a interferir na escolha dos jovens, comprometendo a renovação.
É o que aponta o terceiro levantamento da pesquisa “Retrato da Escola”, lançado nesta semana pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Com base no perfil de 4,6 mil trabalhadores da educação básica em dez estados, a pesquisa demonstra que aqueles que caminham para a aposentadoria formam hoje um grupo dezessete vezes maior que o de educadores com faixa etária entre 18 e 25 anos.
Em dez anos, diz a CNTE, poderá não haver profissionais suficientes para atender a demanda. “A educação brasileira caminha rapidamente para o colapso caso o governo não implemente políticas públicas que melhorem as condições de trabalho e existência da categoria a fim de atrair novos profissionais”.
Em Mato Grosso, o percentual de profissionais da educação com idades superiores a 40 anos ficou em 47%. É quase a mesma proporção, segundo a pesquisa, dos que se concentram na faixa etária entre 25 e 39 anos (48,1%). Enquanto isso, o número de recém-chegados não chega a 2% do total.
“Isto só comprovou nossas impressões. O jovem se sente desmotivado a buscar a educação como exercício profissional. É uma realidade que poucos se dispõem a enfrentar”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Educação Pública (Sintep), Júlio César Martins Viana. “Isso terá uma conseqüência séria na realidade educacional do futuro”.
Segundo ele, hoje já existe déficit de profissionais em determinadas áreas, como ciências exatas e biológicas. “É cada vez mais difícil encontrar professores de Matemática, Química e Física. Nos cursos de graduação, o índice de evasão é de 70%”.
Na universidade, acredita Viana, os alunos e potenciais professores abandonam a idéia ou porque se julgam capazes de exercer atividades mais rentáveis, ou porque vêem de forma mais clara a situação real do ofício.
“O achatamento e os atrasos salariais, as condições de trabalho a cada dia piorando. Todos estes elementos são desmotivadores. Se você fizer uma enquete nas ruas, verá que ninguém mais quer ser professor”, lamenta o sindicalista.
Em 1989, o salário médio do profissional da educação equivalia a 5,6 salários mínimos. Em dez anos, o poder de compra já havia caído para 3,4 salários. “Hoje, a média é de 2,5 salários. E olha que, para que hoje tivéssemos 50% do valor de compra de 15 anos atrás, foi preciso fazer muitas greves e mobilizações”.
De acordo com o Sintep, o número de profissionais que poderá pedir aposentadoria nos próximos dez anos é ainda maior do que diz a CNTE. Viana afirma 75% dos profissionais da educação têm mais de 40 anos de idade, o que poderá significar a abertura de 13 a 14 mil vagas em tempo relativamente curto. “Esta turma não vê a hora de se aposentar, porque não suporta mais. Então pergunto: quem é que vai repor estes profissionais?”.
Para que o colapso não ocorra, a situação precisa ser enfrentada em caráter emergencial. Além de um piso salarial mais atrativo, Viana sugere que a jornada de trabalho seja compatível com o exercício da função em regime de dedicação exclusiva. “É preciso ainda recuperar e valorizar o magistério, garantindo a formação integral e permanente”.
O amparo psicológico aos profissionais que estão na ativa também deve ser considerado pela administração pública. De acordo com Viana, 87% deles sofrem de algum distúrbio psíquico, sendo a histeria o mais freqüente.
“A formação do professor leva ao comprometimento com o outro. Então é preciso lidar com a criança que sofre violência em casa ou aquela que passa fome. Nos sentimos impotentes para resolver isso”, avalia. “Quanto maior é o conflito e a insatisfação, maior é o impacto sobre a condição física e mental”.
PERFIL – De acordo com a pesquisa do CNTE, a maioria dos educadores é formada por mulheres, casadas, entre 25 e 59 anos (predominando a faixa entre 40 e 59 anos), com casa própria perto do centro da cidade, sindicalizadas e seguidoras uma religião.
Simpatizam com partidos políticos, mas não são filiadas e tampouco se envolvem em movimentos sociais. Cultivam o hábito da leitura, não vão com freqüência a teatro e têm pouco, ou mesmo nenhum, contato com computador ou internet.
O ofício de ensinar, base de toda e qualquer política nacional de desenvolvimento, poderá entrar em pouco mais de uma década na lista das profissões ameaçadas de extinção. As condições precárias de trabalho e remuneração, a violência nas escolas e a crescente queda de prestígio social estão a interferir na escolha dos jovens, comprometendo a renovação. É o que aponta o terceiro levantamento da pesquisa “Retrato da Escola”, lançado nesta semana pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Com base no perfil de 4,6 mil trabalhadores da educação básica em dez estados, a pesquisa demonstra que aqueles que caminham para a aposentadoria formam hoje um grupo dezessete vezes maior que o de educadores com faixa etária entre 18 e 25 anos. Em dez anos, diz a CNTE, poderá não haver profissionais suficientes para atender a demanda. “A educação brasileira caminha rapidamente para o colapso caso o governo não implemente políticas públicas que melhorem as condições de trabalho e existência da categoria a fim de atrair novos profissionais”. Em Mato Grosso, o percentual de profissionais da educação com idades superiores a 40 anos ficou em 47%. É quase a mesma proporção, segundo a pesquisa, dos que se concentram na faixa etária entre 25 e 39 anos (48,1%). Enquanto isso, o número de recém-chegados não chega a 2% do total. “Isto só comprovou nossas impressões. O jovem se sente desmotivado a buscar a educação como exercício profissional. É uma realidade que poucos se dispõem a enfrentar”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Educação Pública (Sintep), Júlio César Martins Viana. “Isso terá uma conseqüência séria na realidade educacional do futuro”. Segundo ele, hoje já existe déficit de profissionais em determinadas áreas, como ciências exatas e biológicas. “É cada vez mais difícil encontrar professores de Matemática, Química e Física. Nos cursos de graduação, o índice de evasão é de 70%”. Na universidade, acredita Viana, os alunos e potenciais professores abandonam a idéia ou porque se julgam capazes de exercer atividades mais rentáveis, ou porque vêem de forma mais clara a situação real do ofício. “O achatamento e os atrasos salariais, as condições de trabalho a cada dia piorando. Todos estes elementos são desmotivadores. Se você fizer uma enquete nas ruas, verá que ninguém mais quer ser professor”, lamenta o sindicalista. Em 1989, o salário médio do profissional da educação equivalia a 5,6 salários mínimos. Em dez anos, o poder de compra já havia caído para 3,4 salários. “Hoje, a média é de 2,5 salários. E olha que, para que hoje tivéssemos 50% do valor de compra de 15 anos atrás, foi preciso fazer muitas greves e mobilizações”. De acordo com o Sintep, o número de profissionais que poderá pedir aposentadoria nos próximos dez anos é ainda maior do que diz a CNTE. Viana afirma 75% dos profissionais da educação têm mais de 40 anos de idade, o que poderá significar a abertura de 13 a 14 mil vagas em tempo relativamente curto. “Esta turma não vê a hora de se aposentar, porque não suporta mais. Então pergunto: quem é que vai repor estes profissionais?”. Para que o colapso não ocorra, a situação precisa ser enfrentada em caráter emergencial. Além de um piso salarial mais atrativo, Viana sugere que a jornada de trabalho seja compatível com o exercício da função em regime de dedicação exclusiva. “É preciso ainda recuperar e valorizar o magistério, garantindo a formação integral e permanente”. O amparo psicológico aos profissionais que estão na ativa também deve ser considerado pela administração pública. De acordo com Viana, 87% deles sofrem de algum distúrbio psíquico, sendo a histeria o mais freqüente. “A formação do professor leva ao comprometimento com o outro. Então é preciso lidar com a criança que sofre violência em casa ou aquela que passa fome. Nos sentimos impotentes para resolver isso”, avalia. “Quanto maior é o conflito e a insatisfação, maior é o impacto sobre a condição física e mental”. PERFIL – De acordo com a pesquisa do CNTE, a maioria dos educadores é formada por mulheres, casadas, entre 25 e 59 anos (predominando a faixa entre 40 e 59 anos), com casa própria perto do centro da cidade, sindicalizadas e seguidoras uma religião. Simpatizam com partidos políticos, mas não são filiadas e tampouco se envolvem em movimentos sociais. Cultivam o hábito da leitura, não vão com freqüência a teatro e têm pouco, ou mesmo nenhum, contato com computador ou internet.