Você está aqui: Página Inicial > Notícia > Escolas diferenciadas atendem comunidades indígenas em Pernambuco

Todas as notícias Categorias

04/04/2003 Undime

Escolas diferenciadas atendem comunidades indígenas em Pernambuco

Contribuir para a construção de escolas que considerem as questões de cada povo indígena. Foi com este objetivo que o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLP) elaborou, em 1996, a tecnologia social Escola de Índio. Nestes sete anos, o CCLP já capacitou 350 professores, de 107 escolas, que atendem oito mil alunos índios em Pernambuco.

“A constituição de 1988 garantiu o direito às comunidades indígenas de se organizarem como sociedade diferenciada e, conseqüentemente, ter uma educação diferenciada”, lembra a coordenadora do Projeto Escola de Índios, Eliene de Almeida Amorim. “Mas, com o tempo, percebemos que nada havia mudado aqui em Pernambuco. Os nossos nove povos indígenas continuavam freqüentando as escolas rurais, e a diferença da realidade ensinada na sala de aula e do dia-a-dia dos índios acabava provocando um alto número de evasão escolar e repetência”, conta.

Foi pensando em mudar esta realidade que o Centro de Cultura Luiz Freire resolveu utilizar a sua experiência de luta pela escola pública de qualidade, na elaboração de uma escola específica e diferenciada para os índios. “Eles possuem culturas diferentes, têm um modo de vida diferente dos brancos e têm um processo de aprendizagem próprio”, destaca Eliene. “Nada mais justo do que terem um projeto político pedagógico que considere seus valores e cultura”, acredita.

Xucuru: povo pioneiro

A primeira experiência do projeto foi, em 1996, com o povo indígena Xucuru, no município de Pesqueira, no agreste pernambucano. O CCLP reuniu 100 professores, de 40 escolas, que atendiam quatro mil alunos, para discutir como deveria ser feita a construção da escola diferenciada. “Nosso primeiro passo foi realizar oficinas de leitura com estes professores. Com isso, além de incentivar o gosto pela leitura, fortalecemos a identidade dos professores e discutimos o que eles esperavam da nova escola”, conta Eliene. Junto com representantes do Centro, os professores – que, como seus alunos, também são índios – debateram, entre outros assuntos, que tipo de currículo, cronograma, sistema de avaliação e modelo de gestão eles queriam.

“A partir destes desejos, os próprios professores Xucuru elaboraram um currículo intercultural, ou seja, que abrange tanto os saberes da sociedade indígena, como os da sociedade nacional”, diz a coordenadora. Depois de muita pesquisa histórica e do cotidiano vivido pela comunidade, também foram elaborados o projeto político pedagógico, baseado na valorização e sistematização da história oral do grupo, e a publicação “Xucuru: filhos da mãe natureza”, que é utilizada em sala de aula. “Eles se preocuparam em trabalhar seus valores culturais e as diferenças entre as etnias”, conta Eliene.

Projeto é ampliado e atinge sete povos

A experiência com os Xucuru deu tão certo que o CCLP resolveu ampliar o projeto para outros sete povos indígenas que vivem em Pernambuco. “Criamos uma metodologia para a construção de escolas diferenciadas e, com base nela, reaplicamos o projeto. Cada povo tem o seu próprio projeto político pedagógico, baseado na sua cultura”, conta Eliene. Além dos Xucuru, hoje a tecnologia Escola de Índio também atende os Fulni-ô (residentes na área considerada urbana do município de Águas Belas, sertão central de Pernambuco), Pankararu (municípios de Tacaratu e Petrolândia, alto sertão), Kambiwá (município de Ibimirim e Floresta, alto sertão), Truká (município de Cabrobó, alto sertão), Kapinawá (município de Buíque, sertão) e os Atikum (município de Mirandiba, sertão).

Segundo a coordenadora do projeto, os resultados deste trabalho são muitos. “Hoje os assuntos abordados em sala de aula estão mais integrados com o dia-a-dia das aldeias, os índios estão mais engajados na luta por uma educação de qualidade, os mais velhos participam das aulas contando histórias e lendas do passado da comunidade, os pais estão mais interessados em manter seus filhos na escola e o interesse dos alunos aumentou”, conta Eliene. “Além disso, os professores estão mais felizes. Eles não são mais ‘índios dando aula de branco’, mas índios que reinvidicam a sua identidade”, completa.

Em 1999 o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLP) também ajudou na criação da Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco, que possui representantes dos oito povos que já possuem escolas diferenciadas. Juntos, estes professores estão elaborando publicações coletivas, como o jornal trimestral A Burduna, que veicula produção dos alunos e professores indígenas; o Caderno do Tempo, que aborda a concepção de tempo dos índios; o livro ‘Educação Indígena se aprende mesmo é na escola’, que trata de diversos temas ligados à educação; e o livro ‘Meu povo Conta’, que fala dos mitos e lendas indígenas. “Este último ainda está na gráfica”, diz Eliene com orgulho.

Mais informações sobre este projeto podem ser encontradas no site do Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil (www.cidadania-e.com.br).


Parceria institucional