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23/05/2003 Undime

Deseducação: estudantes agridem Ministro da Educação

Ao abrir os jornais do dia 17 de maio, deparei-me com uma notícia inacreditável. Alunos do Cefet de Goiânia tentaram agredir o Ministro da Educação, professor Cristovam Buarque, quando de sua participação na reunião do Conselho dos Centros Federais de Educação Tecnológica, todos eles da rede pública, mantidos pelo MEC. Vale dizer: os alunos nada pagam para receber um ensino que sempre foi considerado de boa qualidade. A notícia informa que os estudantes subiram no carro do Ministro e pularam na lataria do teto. Uma foto ilustra esta deplorável cena.

O professor Cristovam Buarque saiu do carro e propôs que conversassem, mas não foi bem sucedido. As agressões verbais que tiveram início quando ele chegou ao Cefet de Goiás, continuaram e um dos alunos tentou agredi-lo fisicamente, tentando dar-lhe um chute, tendo sido impedido por funcionários do Cefet.

Para fazer o carro parar, dezenas de estudantes deitaram-se na rua e puseram uma faixa no pára-brisa para atrapalhar a visão do motorista. O tumulto durou cerca de uma hora e só foi contornado com a chegada de três carros da Polícia Militar e de um outro veículo da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana.

Os estudantes acusaram o Ministro de ser "favorável à privatização das universidades federais" e o chamavam, aos gritos, de "profissional da enganação a serviço do Banco Mundial e dos Estados Unidos". Quem conhece o professor Cristovam Buarque, sua trajetória profissional, suas posições ideológicas sabem que a acusação feita pelos estudantes não tem qualquer respaldo. Foi uma acusação gratuita, leviana e uma agressão condenável, inadmissível.
 
E o que traz maior espanto é que o Ministro se dispôs a dialogar. Antes de terminar a reunião no Cefet, diante das agressões verbais que lhe foram dirigidas tão logo chegou ao local, pediu a seus assessores que levassem uma comissão dos estudantes até ele para que pudessem conversar. Os líderes da manifestação não aceitaram a comissão e reivindicaram a entrada de todos na sala. Como era quase uma centena, o Ministro comprometeu-se a falar com eles no pátio da escola.

Entretanto, ao deixar o auditório onde se realizava a reunião do Conselho dos Cefet, o tumulto era de tal ordem, que não foi possível conversar. Como se vê, o Ministro demonstrou várias vezes que estava aberto ao diálogo democrático; mas isto não interessava aos estudantes, que preferiam as agressões e a baderna.
 
É de registrar que, quando o professor Cristovam Buarque desceu do carro depois dos insultos e da tentativa de agressão física, buscando mais uma vez o diálogo, o presidente do Grêmio Estudantil do Cefet disse que falaria em nome dos colegas, dizendo então que "queriam professores melhores, melhores condições de estudo, laboratórios decentes".
 
São reivindicações aceitáveis, mas que deveriam ter sido feitas de modo educado, pacífico. Nada justifica a lamentável atitude dos estudantes do Cefet de Goiás. Enquanto o presidente do Grêmio falava com o Ministro, os estudantes continuavam a agredi-lo, chamando-o, aos gritos, de "demagogo". Esse episódio deixa a nu o despreparo de nossa juventude estudantil para a prática democrática do diálogo, além de deixar evidente a falta de ética, de respeito às autoridades constituídas, de comportamento civilizado.

E não se acuse o Ministro da Educação de intolerante, pois ao finalizar o triste incidente, o Professor Cristóvam Buarque disse aos exaltados estudantes que, se houvesse vaga em sua agenda, os receberia no dia 20 de maio.
 
Não sei se o encontro ocorreu, porque estou escrevendo antes do dia previsto. Só sei que o Ministro deu uma lição de tolerância poucas vezes vista, dispondo-se a receber seus agressores para um possível diálogo educado e democrático, que talvez ensine esses jovens as regras da civilidade. E uma triste conclusão: mais uma vez fica evidente que a escola e a família, como agências educativas, estão deixando de cumprir sua missão com a inteireza desejada. Está aí, certamente, a raiz desse melancólico e triste episódio de deseducação.


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