06/03/2003 Undime
O universo pré-universitário mudou e é coisa recente. Começou a se transformar em meados dos anos 80 e ganhou novas tintas na segunda metade da década de 90, com a inclusão definitiva da internet na vida do brasileiro. Antes disso, a escassez de informação sobre os cursos - como currículo detalhado, possibilidades de atuação, condições do mercado de trabalho, etc - levava boa parte dos alunos a escolhas equivocadas. Atualmente, as universidades disponibilizam seus cursos e currículos, descrevem profissões e as possíveis carreiras; sites especializados em orientação vocacional propõem testes e orientação; no ambiente virtual ou na mídia impressa pode-se descobrir facilmente, as profissões que estão em alta. A escolha, hoje, talvez se complique pelo excesso de informações e também de cursos, profissões e carreiras.
Para amenizar a angústia que tamanha decisão provoca, é sempre bom lembrar que a etapa que se inicia é a da educação continuada - o jovem deve investir constantemente na sua formação -, o que, de certa forma, atenua um pouco a carga pesada de ter que definir prematuramente os rumos da vida profissional. O ensino superior é apenas o ponto de partida. A rota pode ser alterada por novos cursos feitos na seqüência. "Pode-se atualizar e enriquecer o potencial ao longo da vida. Isso faz com que escolher este ou aquele curso não seja uma sala fechada que causa claustrofobia, e sim uma janela que se abre para novas descobertas", compara Elsa Tamas, psicóloga que desenvolve trabalho de orientação vocacional para adolescentes.
O que move a escolha
Muitos estudantes ainda optam por seguir determinadas carreiras em função da pressão familiar, ou da facilidade que ela lhe proporciona - como `herdar´, no início da carreira, o consultório ou a clientela do escritório do pai. É o caso de Gilberto Ferreira Alves, 20 anos, estudante de odontologia na USP, que antes de concluir o curso já sabe que poderá contar com boa parte dos clientes da clínica bem montada de sua mãe. "Os jovens escolhem o caminho profissional movidos por três razões básicas: porque gostam, pelo dinheiro que podem ganhar ou pelo que se denomina `profissão do futuro´ - a tendência de crescimento de determinado campo de trabalho nos próximos anos. Poucos levam em conta se têm talento, ou não, para exercer a profissão", analisa Rosana Bueno, consultora de carreiras e palestrante de Recursos Humanos. O coração de Patrícia Caroline Rodrigues, 16 anos, bate forte pelo curso de Astronomia. Ainda não completou o ensino médio e está certa da profissão que seguirá, segundo ela, porque adora matemática e tem paixão por estrelas. "Gosto de coisas diferentes e não me preocupo tanto se vou ganhar dinheiro com isso", justifica. Na corrida pela vaga na universidade, os idealistas como Patrícia perdem terreno para os jovens com preocupação em unir o útil ao agradável, o prazer à boa remuneração. É o caso de Natália Pereira Peña, 15 anos, que gostaria muito de seguir Serviço Social, mas desanima diante da perspectiva dos baixos salários. "Acho que vou trocar a opção para Psicologia, que também gosto, porque nela vejo melhores chances de ganhar dinheiro", comenta. André Gajardoni, 18 anos, é amante da música. Nunca pensou em seguir sua vocação e, em contrapartida, viver com a conta bancária enxuta. Também eliminou, de cara, a possibilidade de uma profissão na área de exatas só porque `dá dinheiro´, porque intui que a área de Humanas é mais "a sua praia". Cogitou Ciências Sociais, mas desistiu. Embora gostasse, não via muita chance de crescimento profissional. Acabou resolvendo a questão se inscrevendo no vestibular para Administração, já que simpatiza com a profissão, tem grande habilidade em negociar e, ao mesmo tempo, pode ser bem sucedido do ponto de vista financeiro.
A estabilidade aliada a perspectivas de crescimento foi o grande argumento para direcionar a carreira de Guilherme Augusto Szekely, 24 anos, formado em Direito na UNIP. "No meio do curso percebi que, além do mercado saturado, a vida do advogado que comanda seu próprio escritório é cheia de altos e baixos. Optei, então, pelo serviço público, e atuar como delegado, promotor ou mesmo investir na carreira de juiz", afirma. Para o pré-vestibulando Rodrigo Bortoliero, 18 anos, a opção pelos cursos de Turismo ou Hotelaria passa pela idéia de que são profissões do futuro. "É uma área que ainda vai ser muito explorada e que todo mundo aposta. Tenho dois amigos que mal acabaram um curso técnico em Turismo e já estagiam em grandes hotéis", conta.
As ferramentas mais utilizadas
Torna-se cada vez mais raro deparar com jovens que escolhem a profissão às escuras. No mínimo, conversam entre si, com familiares ou com amigos que já cursam uma faculdade. "Sempre gostei de fotografia, marketing, produção de eventos e de me comunicar com as pessoas, mas queria me aprofundar, conhecer o curso de Publicidade, saber quais são as matérias e como é o dia-a-dia da profissão. Fui visitar a faculdade de um amigo que está no segundo ano. Assisti às aulas e conversei com os professores. Também passei um dia numa agência de publicidade observando como o pessoal trabalha e experimentando um pouco da rotina. Complementei indo à banca de jornal e comprando o Guia do Estudante. Sem esse esforço de ir atrás das informações, não saberia o quanto o campo de trabalho é amplo e posso até definir o caminho que quero seguir mais tarde", conta Luana Ananda Peña, 18 anos, que acaba de passar no vestibular para Propaganda e Marketing na Universidade Anhembi Morumbi. Para atender a estudantes tão minuciosos quanto Luana, as universidades abrem suas portas para visitas com hora marcada. Marco Souza da Silva, 21 anos, fez parte de uma turma de oito estudantes que participou do projeto `A Universidade e as Profissões´, da Universidade de São Paulo - USP, numa visita monitorada a algumas faculdades. "Achei o máximo, pois nem imaginava como era um campus universitário. E, além do mais, tirei dúvidas com professores e alunos e isso me ajudou a eliminar várias profissões da minha lista. Agora fica mais fácil decidir", resume.
Como a internet faz parte da vida de nove entre dez adolescentes, a ferramenta figura entre as mais utilizadas na busca de informação precisa e rápida. "Estava superperdida, sem saber por onde começar. Uma amiga da minha mãe me indicou o site da USP, que traz todos os cursos com os currículos e a descrição das profissões. Fiz uma pesquisa lá e completei navegando por mais dois sites de orientação vocacional. Li um monte de dicas e até respondi a um teste", lembra a estudante de cursinho Carla Afonso da Silva, 19 anos.
As fontes de informação não param na internet. No ensino privado, por exemplo, muitas escolas já oferecem aos alunos o serviço de orientação vocacional. A programação inclui a vinda de profissionais de diversas áreas à sala de aula e a ida dos estudantes a empresas, consultórios e universidades. André Gajardoni, que concluiu o terceiro ano do ensino médio no Colégio Santo Ivo, em São Paulo, conta que a conversa com os profissionais foi fundamental para a sua escolha final. "Encontros com quem se dá bem na carreira podem nos influenciar, sem dúvida. Eles nos dão detalhes da profissão que têm mais a ver com a experiência prática, coisa que os professores não podem nos dar com segurança", argumenta ele.
Alguns jovens também buscam orientação vocacional nas faculdades de Psicologia das universidades e, em várias delas, o serviço é gratuito. Nas sessões, que são de no mínimo cinco, grupos de jovens debatem temas diversos, participam de dinâmicas e jogos, fazem testes e questionam sobre as profissões. Os encontros também podem acontecer individualmente e o objetivo principal é dissipar as dúvidas e apontar caminhos. "O trabalho de orientação é limpar o terreno para deixar vir no jovem o que lhe é natural, compatível com o seu jeito de ser. Ele vai se defrontar com o que gosta e dá prazer, suas habilidades. Enfim, é o levantamento do seu universo de interesses", finaliza a psicóloga Elsa Tamas.
O universo pré-universitário mudou e é coisa recente. Começou a se transformar em meados dos anos 80 e ganhou novas tintas na segunda metade da década de 90, com a inclusão definitiva da internet na vida do brasileiro. Antes disso, a escassez de informação sobre os cursos - como currículo detalhado, possibilidades de atuação, condições do mercado de trabalho, etc - levava boa parte dos alunos a escolhas equivocadas. Atualmente, as universidades disponibilizam seus cursos e currículos, descrevem profissões e as possíveis carreiras; sites especializados em orientação vocacional propõem testes e orientação; no ambiente virtual ou na mídia impressa pode-se descobrir facilmente, as profissões que estão em alta. A escolha, hoje, talvez se complique pelo excesso de informações e também de cursos, profissões e carreiras. Para amenizar a angústia que tamanha decisão provoca, é sempre bom lembrar que a etapa que se inicia é a da educação continuada - o jovem deve investir constantemente na sua formação -, o que, de certa forma, atenua um pouco a carga pesada de ter que definir prematuramente os rumos da vida profissional. O ensino superior é apenas o ponto de partida. A rota pode ser alterada por novos cursos feitos na seqüência. "Pode-se atualizar e enriquecer o potencial ao longo da vida. Isso faz com que escolher este ou aquele curso não seja uma sala fechada que causa claustrofobia, e sim uma janela que se abre para novas descobertas", compara Elsa Tamas, psicóloga que desenvolve trabalho de orientação vocacional para adolescentes. O que move a escolha Muitos estudantes ainda optam por seguir determinadas carreiras em função da pressão familiar, ou da facilidade que ela lhe proporciona - como `herdar´, no início da carreira, o consultório ou a clientela do escritório do pai. É o caso de Gilberto Ferreira Alves, 20 anos, estudante de odontologia na USP, que antes de concluir o curso já sabe que poderá contar com boa parte dos clientes da clínica bem montada de sua mãe. "Os jovens escolhem o caminho profissional movidos por três razões básicas: porque gostam, pelo dinheiro que podem ganhar ou pelo que se denomina `profissão do futuro´ - a tendência de crescimento de determinado campo de trabalho nos próximos anos. Poucos levam em conta se têm talento, ou não, para exercer a profissão", analisa Rosana Bueno, consultora de carreiras e palestrante de Recursos Humanos. O coração de Patrícia Caroline Rodrigues, 16 anos, bate forte pelo curso de Astronomia. Ainda não completou o ensino médio e está certa da profissão que seguirá, segundo ela, porque adora matemática e tem paixão por estrelas. "Gosto de coisas diferentes e não me preocupo tanto se vou ganhar dinheiro com isso", justifica. Na corrida pela vaga na universidade, os idealistas como Patrícia perdem terreno para os jovens com preocupação em unir o útil ao agradável, o prazer à boa remuneração. É o caso de Natália Pereira Peña, 15 anos, que gostaria muito de seguir Serviço Social, mas desanima diante da perspectiva dos baixos salários. "Acho que vou trocar a opção para Psicologia, que também gosto, porque nela vejo melhores chances de ganhar dinheiro", comenta. André Gajardoni, 18 anos, é amante da música. Nunca pensou em seguir sua vocação e, em contrapartida, viver com a conta bancária enxuta. Também eliminou, de cara, a possibilidade de uma profissão na área de exatas só porque `dá dinheiro´, porque intui que a área de Humanas é mais "a sua praia". Cogitou Ciências Sociais, mas desistiu. Embora gostasse, não via muita chance de crescimento profissional. Acabou resolvendo a questão se inscrevendo no vestibular para Administração, já que simpatiza com a profissão, tem grande habilidade em negociar e, ao mesmo tempo, pode ser bem sucedido do ponto de vista financeiro. A estabilidade aliada a perspectivas de crescimento foi o grande argumento para direcionar a carreira de Guilherme Augusto Szekely, 24 anos, formado em Direito na UNIP. "No meio do curso percebi que, além do mercado saturado, a vida do advogado que comanda seu próprio escritório é cheia de altos e baixos. Optei, então, pelo serviço público, e atuar como delegado, promotor ou mesmo investir na carreira de juiz", afirma. Para o pré-vestibulando Rodrigo Bortoliero, 18 anos, a opção pelos cursos de Turismo ou Hotelaria passa pela idéia de que são profissões do futuro. "É uma área que ainda vai ser muito explorada e que todo mundo aposta. Tenho dois amigos que mal acabaram um curso técnico em Turismo e já estagiam em grandes hotéis", conta. As ferramentas mais utilizadas Torna-se cada vez mais raro deparar com jovens que escolhem a profissão às escuras. No mínimo, conversam entre si, com familiares ou com amigos que já cursam uma faculdade. "Sempre gostei de fotografia, marketing, produção de eventos e de me comunicar com as pessoas, mas queria me aprofundar, conhecer o curso de Publicidade, saber quais são as matérias e como é o dia-a-dia da profissão. Fui visitar a faculdade de um amigo que está no segundo ano. Assisti às aulas e conversei com os professores. Também passei um dia numa agência de publicidade observando como o pessoal trabalha e experimentando um pouco da rotina. Complementei indo à banca de jornal e comprando o Guia do Estudante. Sem esse esforço de ir atrás das informações, não saberia o quanto o campo de trabalho é amplo e posso até definir o caminho que quero seguir mais tarde", conta Luana Ananda Peña, 18 anos, que acaba de passar no vestibular para Propaganda e Marketing na Universidade Anhembi Morumbi. Para atender a estudantes tão minuciosos quanto Luana, as universidades abrem suas portas para visitas com hora marcada. Marco Souza da Silva, 21 anos, fez parte de uma turma de oito estudantes que participou do projeto `A Universidade e as Profissões´, da Universidade de São Paulo - USP, numa visita monitorada a algumas faculdades. "Achei o máximo, pois nem imaginava como era um campus universitário. E, além do mais, tirei dúvidas com professores e alunos e isso me ajudou a eliminar várias profissões da minha lista. Agora fica mais fácil decidir", resume. Como a internet faz parte da vida de nove entre dez adolescentes, a ferramenta figura entre as mais utilizadas na busca de informação precisa e rápida. "Estava superperdida, sem saber por onde começar. Uma amiga da minha mãe me indicou o site da USP, que traz todos os cursos com os currículos e a descrição das profissões. Fiz uma pesquisa lá e completei navegando por mais dois sites de orientação vocacional. Li um monte de dicas e até respondi a um teste", lembra a estudante de cursinho Carla Afonso da Silva, 19 anos. As fontes de informação não param na internet. No ensino privado, por exemplo, muitas escolas já oferecem aos alunos o serviço de orientação vocacional. A programação inclui a vinda de profissionais de diversas áreas à sala de aula e a ida dos estudantes a empresas, consultórios e universidades. André Gajardoni, que concluiu o terceiro ano do ensino médio no Colégio Santo Ivo, em São Paulo, conta que a conversa com os profissionais foi fundamental para a sua escolha final. "Encontros com quem se dá bem na carreira podem nos influenciar, sem dúvida. Eles nos dão detalhes da profissão que têm mais a ver com a experiência prática, coisa que os professores não podem nos dar com segurança", argumenta ele. Alguns jovens também buscam orientação vocacional nas faculdades de Psicologia das universidades e, em várias delas, o serviço é gratuito. Nas sessões, que são de no mínimo cinco, grupos de jovens debatem temas diversos, participam de dinâmicas e jogos, fazem testes e questionam sobre as profissões. Os encontros também podem acontecer individualmente e o objetivo principal é dissipar as dúvidas e apontar caminhos. "O trabalho de orientação é limpar o terreno para deixar vir no jovem o que lhe é natural, compatível com o seu jeito de ser. Ele vai se defrontar com o que gosta e dá prazer, suas habilidades. Enfim, é o levantamento do seu universo de interesses", finaliza a psicóloga Elsa Tamas.