06/03/2003 Undime
Jefferson Rudy 7.2.03 |
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Andrea e Maria Alcina fazem graduação e garantem que já estão preparadas para ensinar. Com o curso superior, passaram a entender melhor o universo do aluno |
SEM FORMAÇÃO 19% dos professores brasileiros de 5ª a 8ª série não têm cursos superiores 26% é a porcentagem de educadores de 1ª a 4ª séries com nível superior no país. Um número muito abaixo do desejado, já que em 2006 todos terão de ter diploma de curso superior Fonte: Censo da Educação 2002, do Instituto Nacional de Educação e Pesquisas |
Acesso ao diploma é mais fácil Antes de tomar posse no Ministério da Educação, Cristovam Buarque apresentou um projeto de lei com o objetivo de facilitar o acesso dos professores sem diploma à universidade. A proposição determina que as faculdades do país (públicas e privadas) abram vagas extras apenas para os docentes que possuem só o magistério. Eles não teriam de concorrer com os demais candidatos. Fariam vestibular especial, apenas com os colegas de profissão. A única exigência será ter trabalhado há pelo menos 3 anos na área e não ter curso superior. As vagas seriam exclusivas para os cursos de Pedagogia e Licenciatura. ‘‘Dessa maneira, ajudaríamos esses profissionais a cumprir a determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação’’, explica o ministro. A LDB determina que, a partir de 2006, todos os professores do país tenham diploma de nível superior. (GF) |
Jefferson Rudy 7.2.03 Andrea e Maria Alcina fazem graduação e garantem que já estão preparadas para ensinar. Com o curso superior, passaram a entender melhor o universo do aluno Ela passou 24 anos ensinando crianças. Só agora, aos 40, percebe que não fez o suficiente. Não bastava apresentar a garotada ao bê-a-bá. Seria melhor ensiná-los a ser cidadãos. Andrea de Matos faz parte de um grupo de professores da rede pública do Distrito Federal que está redescobrindo a arte de educar. Apesar de lecionarem há anos, esses mestres não têm curso superior. Uma lacuna que interfere na qualidade do trabalho. Mas essa história tende a mudar. Até 2006, eles estarão formados e prontos para ensinar melhor. O diploma será dado pelo programa Professor Nota 10, que oferece curso de licenciatura a quatro mil docentes de 1ª a 4ª série. Os cursos são oferecidos aos docentes pela Universidade de Brasília (UnB) e pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Cada instituição atende atualmente 2 mil professores. Todos os custos são pagos pela Secretaria de Educação. ‘‘Essa é a nossa maneira de investir nesses professores’’, diz Maria José Coutinho, gerente da Escola de Aperfeiçoamento dos Professores (EAP) do governo. A idéia de colocar os docentes para estudar surgiu da necessidade. Todo o país enfrenta uma corrida contra o relógio no quesito formação de professores. A partir de 2006, todos os educadores brasileiros terão de possuir um diploma de curso superior. A determinação é da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), assinada em 1996. Atualmente, a faculdade é obrigatória apenas para quem ministra aulas em turmas a partir da 5ª série. O DF possui cerca de 28 mil professores. Desses, pelo menos 5 mil não têm curso superior. E, a cada novo concurso, entra uma nova leva sem formação adequada. ‘‘Se exigíssemos o diploma hoje, muitas escolas do país ficariam sem aula por falta de educador’’, revelou o ministro da Educação, Cristovam Buarque, quando propôs um projeto de lei para facilitar o acesso dos professores à universidade. (leia matéria abaixo). Aulas melhores A intenção da LDB — ao exigir nível superior de todos os professores — é garantir a qualidade do ensino, em todas as séries. Parte-se do princípio de que o professor com melhor formação dá uma aula melhor. Opinião confirmada, inclusive, pelos educadores sem diploma. ‘‘No magistério, a gente aprende a lidar com a criança na prática, mas não a pensar sobre o papel que representa na vida de cada aluno’’, analisa Andrea, professora de 4ª série da Centro de Ensino Fundamental do Jardim Botânico. ‘‘No curso superior, conheci um monte de métodos didáticos diferentes e descobri o poder de mudar a vida de um aluno. Basta saber se aproximar dele da forma correta.’’ Andrea está no 2º semestre do Professor Nota 10. Ela vai ao Uniceub três vezes por semana, no horário contrário ao que leciona. Apesar de ainda não ter se formado, tem certeza absoluta de que já é uma educadora eficiente. ‘‘Tenho me preocupado mais em incentivar os alunos a lutarem pelos próprios direitos’’, conta. ‘‘Agora sei que tenho de formar estudantes ativos e conscientes de seu papel na sociedade.’’ Quem também está satisfeita com a oportunidade de voltar a estudar é Maria Alcina da Silva, 36. Ela é professora da 1ª série da Escola Classe 4 do Paranoá. Graças à faculdade, começa a entender melhor os próprios alunos. ‘‘Em cada etapa do desenvolvimento, a criança age diferente’’, explica. ‘‘Se a gente identifica em qual fase ela está, consegue lidar melhor com os problemas.’’ Alcina também aprendeu a mexer no computador durante o curso. ‘‘Eu só sabia ligar, mas nunca tinha entrado na Internet’’. A professora, assim como a maioria dos colegas, não tem o equipamento em casa. Na escola onde leciona, existe apenas uma máquina — disputada a tapa pelos funcionários. Por isso, ela só foi apresentada à rede e ao Word (processador de textos) na semana passada. ‘‘É fantástico o que se pode fazer com esse treco.’’ Levantamentos da EAP mostram que 99% dos educadores matriculados no Professor Nota 10 não sabem mexer com o computador. ‘‘Essa é uma realidade que nos preocupa’’, diz Maria José. ‘‘De que adianta informatizar as escolas se os docentes não sabem trabalhar com as novas tecnologias?’’. Quando se formarem, em 2005, Alcina e Andrea serão educadoras mais competentes. A auto-estima, contam, sobe às alturas. Não só pelo melhor desempenho na sala, mas pela certeza de que serão valorizadas profissionalmente. O reflexo disso aparecerá no contra-cheque. Assim que forem graduadas, passarão do nível 1 para o nível 3 da carreira. Na prática, receberão cerca de 50% a mais todos os meses. Bom para elas, melhor para os alunos. ServiçoO Uniceub abrirá ainda neste semestre mil vagas para os cursos de formação do Professor Nota 10. Podem participar professores da Fundação Educacional, sem graduação. Informe-se sobre os prazos e formas de inscrição na diretoria da sua escola ou na Regional de Ensino mais próxima. SEM FORMAÇÃO 19% dos professores brasileiros de 5ª a 8ª série não têm cursos superiores 26% é a porcentagem de educadores de 1ª a 4ª séries com nível superior no país. Um número muito abaixo do desejado, já que em 2006 todos terão de ter diploma de curso superior Fonte: Censo da Educação 2002, do Instituto Nacional de Educação e Pesquisas Acesso ao diploma é mais fácilAntes de tomar posse no Ministério da Educação, Cristovam Buarque apresentou um projeto de lei com o objetivo de facilitar o acesso dos professores sem diploma à universidade. A proposição determina que as faculdades do país (públicas e privadas) abram vagas extras apenas para os docentes que possuem só o magistério. Eles não teriam de concorrer com os demais candidatos. Fariam vestibular especial, apenas com os colegas de profissão. A única exigência será ter trabalhado há pelo menos 3 anos na área e não ter curso superior. As vagas seriam exclusivas para os cursos de Pedagogia e Licenciatura. ‘‘Dessa maneira, ajudaríamos esses profissionais a cumprir a determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação’’, explica o ministro. A LDB determina que, a partir de 2006, todos os professores do país tenham diploma de nível superior. (GF)