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11/04/2003 Undime

A utopia e o concreto

Na Declaração Mundial sobre Educação para Todos, firmada na Conferência de Jomtien, em março de 1990, os participantes, no preâmbulo, registram que "admitindo que, em termos gerais, a educação que hoje é ministrada apresenta graves deficiências, faz-se necessário torná-la mais relevante e melhorar sua qualidade, além de torná-la universalmente disponível."

Ainda nesse mesmo documento, no artigo 1º, referente aos objetivos, lê-se que "cada pessoa criança, jovem ou adulto deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem."

A escola ideal, e não a possível, tem que se preocupar não só com a melhoria da qualidade do processo ensino e aprendizagem, o que já se constitui em grande desafio, pois sabemos todos que nosso ensino, atualmente, carece de qualidade em todos os graus-básico e superior; mas com os demais aspectos referentes à educação, não só a escolaridade e que poderiam ser sintetizados em assegurar a todos, desde a educação básica até a superior, a formação indispensável para o exercício da cidadania e a preparação para a vida produtiva.

A escola ideal, portanto, é aquela que oferece os instrumentos e conteúdos essenciais para uma aprendizagem de qualidade necessários para que os homens possam desenvolver plenamente suas potencialidades, possam trabalhar com competência, viver com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida; saibam tomar decisões fundamentais, continuem aprendendo, uma vez que a aprendizagem é um processo permanente e contínuo.

Mas não só. A escola ideal é aquela que confere aos membros de uma sociedade a  possibilidade e a responsabilidade de respeitar e desenvolver sua herança cultural e lingüística; de defender a causa da justiça social; de proteger o meio-ambiente; de ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos diferentes dos seus; de assegurar o respeito aos valores e aos direitos humanos; de participar do esforço para garantir a paz e a solidariedade, num mundo cambiante e interdependente.

A escola ideal deve ter compromisso com a formação moral e ética, pois são valores através dos quais os indivíduos e a sociedade encontram sua identidade e dignidade.

Como se vê, a escola ideal além de garantir as condições básicas ao processo educacional tem que oferecer e garantir as condições ideais para a formação de um indivíduo útil a si mesmo e à sociedade, portador de uma bagagem de conhecimentos, competências e habilidades e de uma escala de valores morais e éticos que lhe permita competir com conhecimento e lealdade, ter acesso a uma vida de qualidade, saber viver num mundo marcado por permanentes avanços e conseqüentes transformações; com capacidade de ler, discernir e interpretar a avalanche de informações disponíveis proporcionados pelas diversas mídias. A escola ideal é aquela que o Brasil almeja e precisa.

Defini-la, descrevê-la é um exercício fácil. Oferecê-la é um grande desafio que, por ser grande, não deve deixar de ser perseguido, pois ter uma escola ideal é imprescindível, embora concretizá-la num país com as dimensões continentais do Brasil é tarefa gigantesca que exige conscientização, determinação e continuidade de esforços.

Para alcançar essa meta, faz-se necessário, como dizia Paulo Freire, "ter um pé no concreto e o outro na utopia e uma sã loucura impulsionando um sonho." O proeminente papel do professor e demais profissionais da educação no provimento de uma escola ideal deverá ser reconhecido e desenvolvido de forma a otimizar sua contribuição. Para isso será preciso transformar o discurso que enfatiza a importância de seu papel em ações concretas que começam com sua formação, passam pela melhoria das condições de trabalho, continuam com sua capacitação e crescimento em serviço para mantê-lo permanentemente atualizado e para que tenha sua prática docente aperfeiçoada, que garantam remuneração condigna, condições indispensáveis para permitir aos docentes, supervisores, gestores a plena satisfação de suas aspirações e o cumprimento satisfatório de suas obrigações sociais e responsabilidades éticas.

Este é um dos desafios propostos pelo Ministro da Educação. Em seus diversos pronunciamentos, o Professor Cristovam Buarque tem priorizado três grandes linhas de ação: a abolição do analfabetismo, a garantia de uma escola ideal que o Brasil precisa, e a invenção de um projeto alternativo de universidade para o século XXI, para que ela volte a ser "a vanguarda na geração do saber, a grande divulgadora do conhecimento, a entidade que vai gerar a possibilidade da realização pessoal dos alunos, tendo como nos anos 60, sintonia ética com as necessidades do povo."

Afinal, sem essa escola, todos os ideais de justiça social vão se transformando no pesadelo que já tanto inquieta a Nação, afunilando os horizontes de cidadania para tantos jovens e tantas crianças. E, parafraseando Paulo Freire, procuremos todos oferecer nossa cota de contribuição para que essa utopia tão necessária impulsione nossos sonhos, materializando-os no concreto da escola ideal.

 


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