02/04/2003 Undime
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Arquivo Diário Paulo Freire: uma educação para a liberdade completa do sujeito O mestre dos oprimidos"Para relembrar as quatro décadas de realização da histórica experiência educacional do pedagogo Paulo Freire em Angicos (RN), o Museu do Ceará agendou uma extensa programação para hoje, designada “40 Horas Paulo Freire - 40 anos depois”O episódio ocorreu há exatos 40 anos, em Angicos, interior do RN, e ilustra a importância do recifense Paulo Freire como principal educador brasileiro e nome fundamental para a pedagogia no século XX. Na ocasião, um grupo de 300 alunos da região assistia à última aula, que completaria a jornada de 40 horas de um projeto de alfabetização para adultos.O local estava repleto de jornalistas e de grandes lideranças políticas - a aula final ficou sob a responsabilidade do presidente João Goulart, que definiu como tema “o Ato democrático de ler a Constituição”. A palestra condecorou as atividades daquela semana, hoje considerada um marco na história da educação no País, por comprovar a viabilidade e eficiência do modelo pedagógico desenvolvido por Freire durante a década de 50, modelo onde a leitura das palavras é ensinada em concomitância com uma “leitura crítica do mundo”. Por conseguinte, ao término do processo, formam-se alfabetizados e cidadãos.Professor de Português na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Freire desenvolveu sua filosofia pedagógica a partir de várias experiências com movimentos populares. Na sua concepção, a palavra deve ser sobretudo vivenciada: a educação é um processo dinâmico e histórico através do qual o indivíduo toma consciência de seu lugar no mundo. Uma educação para a liberdade completa do sujeito, a exemplo do que ilustra o título de seu livro mais famoso “Pedagogia do Oprimido”. Às sessões onde suas teorias eram postas em prática Freire batizou com o sugestivo nome de “Círculos de Cultura”, porque durante as aulas discutia-se cultura em simultaneidade com o processo de alfabetização.Para celebrar a data e a memória do grande educador, a direção do Museu do Ceará agendou uma extensa programação para hoje, sob a designação “40 Horas Paulo Freire - 40 anos depois”. “Freire já desenvolvia sua metodologia, mas Angicos foi a primeira grande experiência coletiva e com grande visibilidade a comprovar a excelência de suas idéias. João Goulart gostou tanto que convidou o educador para integrar o Ministério da Educação”, argumenta o historiador Régis Lopes, diretor do Museu.A proposta do governo federal era ousada e providencial: 20 mil Círculos de Cultura seriam instalados no País, para alfabetizar cerca de dois milhões de brasileiros. O sonho do pedagogo desmoronou com o golpe de 1964 e a desconfiança do governo militar - era educação em demasia, concluíram os ditadores. Freire foi preso e expulso de sua pátria. Morou em vários países e suas idéias cativaram intelectuais de todo o mundo. Com a anistia, retornou ao Brasil para dar continuidade aos seus projetos. Prosseguiu em seu esforço até o dia 2 de maio de 1997, quando faleceu.Mas o exemplo vitorioso de Angicos permanece ativo. As comemorações da data no Museu do Ceará terão início às 16h, com a mesa redonda “Memórias de Paulo Freire no Ceará”, composta pelos pesquisadores Luíza de Teodoro, Rute Cavalcante e Lúcia Alencar. Às 17h30, outro momento especial: será lançado o “Projeto Patativa”, um programa permanente de alfabetização de adultos, que utilizará o espaço do Museu como instrumento pedagógico, desenvolvido em parceria pela instituição e a Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza.