24/11/2023 Undime
Entrevista com Maristela Guasselli, Dirigente Municipal de Educação de Novo Hamburgo/ RS, presidente da Undime Região Sul e Undime Rio Grande do Sul
O impacto que a educação empreendedora e a educação inclusiva tem na vida de crianças e jovens é inegável e, muitas vezes, decisivo para a jornada de vida de cada um. É na trajetória da Educação Básica, afinal, que competências essenciais para a vida são estimuladas e desenvolvidas. E os retornos aparecem não só para os indivíduos, mas também para as instituições e para a sociedade como um todo, uma vez que a evolução se dá em diferentes âmbitos.
Quem falou mais sobre o tema conosco foi Maristela Guasselli, Dirigente Municipal de Educação de Novo Hamburgo (RS), presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio Grande do Sul (Undime/RS) e autora do livro Formação docente e interfaces da inclusão: epistemologia e prática. Confira a entrevista!
Como você define uma educação verdadeiramente inclusiva?
Antes de tudo, quero dizer que acredito, verdadeiramente, na educação inclusiva.
Penso que ela ocorre quando todos os processos da escola são realizados de forma fluida, sem barreiras de acesso arquitetônico ou cognitivo para nenhum estudante ou família.
Não podemos pensar que a educação inclusiva é só para uma criança ou para um estudante deficiente. Existem diferentes maneiras de inclusão, inclusive relacionadas à cor, à raça, ao gênero, à religião, etc. Na minha opinião como pessoa, como professora e como estudiosa do tema, a verdadeira inclusão é essa amplitude, esse alargamento de possibilidades para todas as pessoas que convivem conosco – para estudantes, para professores, para familiares.
Aqui em Novo Hamburgo, na nossa rede de ensino, trabalhamos com documentos orientadores para todos os professores. O Fundamentos e Concepções da Rede Municipal de Ensino – Documento Orientador – Caderno 1” passa pela definição de educação inclusiva e, sobre o papel da escola, diz que:
“Na perspectiva da educação inclusiva, entendemos a escola como um espaço em que cada sujeito é protagonista de sua própria história, que constrói o seu saber na medida de suas possibilidades e potencialidades; dessa forma, é o lugar onde se privilegiam as singularidades dos sujeitos dentro do contexto coletivo, oportunizando diferentes estratégias pedagógicas para que todos possam aprender.”
Portanto, é algo que está instituído em toda a rede municipal. Não é algo que alguém pensa isoladamente. Neste contexto, digo que, para verdadeiramente acreditar, é preciso investir, ter ações, ter práticas. Não basta pensar na legislação ou no que está escrito, mas ter prática e em como ela acontece.
E por educação empreendedora, qual é o seu entendimento/definição e como ela é verdadeiramente empreendedora?
Em nossa rede de ensino de Novo Hamburgo, trabalhamos também voltados para a Educação Empreendedora. Ela desenvolve competências integradas à construção de projetos de vida, que está indicado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esse é um ponto.
A Educação Empreendedora também colabora para o desenvolvimento integral dos estudantes e estimula seu protagonismo em diversas faixas etárias, desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também oferece soluções e aperfeiçoamento da valorização profissional de professores e de gestores escolares.
Aqui, nós trabalhamos com o ensino pela pesquisa desde a Educação Infantil. À medida que a integração do ensino vem pela pesquisa na Educação Básica, ele tem uma relação intrínseca com o desenvolvimento do empreendedorismo entre os estudantes. Isso porque esse empreendedorismo estimula o desenvolvimento de habilidades como resolução de problemas, tomadas de decisão e capacidade de adaptação. Esses são pontos que destacamos no ensino pela pesquisa que leva, fundamentalmente, para o empreendedorismo. Por exemplo, por meio dessa pesquisa, eles aprendem a lidar com a frustração, a persistir diante dos desafios e a trabalhar em equipe. Essas habilidades são essenciais para qualquer perfil empreendedor, que precisam ser resilientes, ter visão estratégica e saber se relacionar com as outras pessoas para alcançar seus objetivos.
Não é um ensinamento somente para um dia, para uma feira ou para um espaço específico. São competências e habilidades necessárias e úteis para o dia a dia; é um aprendizado para toda a vida.
Como a educação empreendedora pode apoiar na formação de indivíduos mais respeitosos, acolhedores e empáticos?
A Educação Empreendedora visa preparar os estudantes para os desafios atuais – e isso abrange também o desenvolvimento de habilidades socioemocionais que abraçam um comportamento e um olhar que enaltece a importância do respeito, do acolhimento e da empatia.
Como disse, os passos iniciais da Educação Empreendedora podem ser dados desde a primeira infância, como fazemos em Novo Hamburgo, quando ocorrem propostas investigativas pautadas na educação pela pesquisa. Essas propostas oportunizam desenvolvimento da capacidade de, entre outros pontos, buscar soluções para si, para os outros e para o meio – principalmente no que se refere ao ambiente, às relações e à coletividade. A Educação Empreendedora é uma das propulsoras desse processo.
Como a educação inclusiva apoia no desenvolvimento de competências empreendedoras (e vice-versa)?
São propostas e conceitos que se complementam o tempo todo. A convivência; a socialização; a autonomia; a independência; os cuidados consigo mesmo, com os outros e com o planeta; a autoestima; a vivência e aprendizagem das regras – que possibilitam o convívio em sociedade; a construção de identidades individuais e coletivas; a capacidade de fazer escolhas e assumir a responsabilidade. Tudo isso está interligado com a Educação Empreendedora e a educação inclusiva – e os benefícios e resultados que isso traz para toda a comunidade escolar.
A escola deve ser esse espaço de diálogo, interativo, cooperativo, lúdico e um lugar de fala e de escuta, associado ao processo de aprendizagem.
Quais estratégias os professores podem adotar para aplicar a educação inclusiva em sala de aula, diante de um cenário escolar que atua com práticas da educação empreendedora?
Eu entendo que não tem um autor, uma prática ou uma metodologia específica. Penso que é um contexto geral, que passa pelo processo de ação-reflexão-ação. Cada caso é particular, é muito individual, mas é muito importante que haja disposição e vontade para isso.
Entre as práticas que podem ser adequadas e adaptadas para cada realidade, ressalto algumas que adotamos em nossa rede municipal. O ensino pela pesquisa é uma delas, que incentiva e proporciona a organização dos conteúdos curriculares e proporcionam organização dos conteúdos curriculares, que não podem ficar de lado. O uso de equipamentos e de tecnologia digital também, que atende a diferentes necessidades dos estudantes (tablets, celulares e tecnologias assistivas, por exemplo) e dá suporte para o desenvolvimento de habilidades e competências singulares de cada um dos estudantes. Outro ponto importante é o apoio a todo o corpo docente – aqui, por exemplo, trabalhamos com a capacitação constante dos professores, sempre dentro do horário de trabalho.
Deixe sua mensagem sobre a importância que enxerga na educação empreendedora (considerando a educação inclusiva como parte dela).
Quero reforçar como valorizo a importância dos dois temas – e vejo seus resultados diariamente. É fundamental ressaltar que a Educação Empreendedora e a educação inclusiva estão sempre muito interligadas.
Ressalto uma parceria que temos com o Senai, em que os estudantes do 80 e 90 anos da rede fazem três cursos profissionalizantes – então já saem com uma visão empreendedora, com uma qualificação mais específica. Isso tudo atrelado ao contexto das outras práticas, como o ensino pela pesquisa, é muito valioso, porque os estudantes aprendem a lidar com a frustração, com os desafios, com o trabalho de equipe, com a coletividade. Esse é um ponto de destaque. Todo esse conjunto promove um olhar mais crítico, questionador, que está sempre buscando soluções.
Reforço também que a Educação Empreendedora e a educação inclusiva podem e devem ocorrer em todas as faixas etárias; não devem e não há motivo para se restringirem apenas a algumas idades. Todo o conhecimento produzido e gerado é utilizado na vida, não somente na escola. Ele reflete na casa, na escola, no bairro, na comunidade; no adulto, no líder e no dirigente que podem se tornar em alguns anos. Temos, portanto, que continuar investindo na educação, pensando sempre nessa coletividade, na construção e na possibilidade de aprendizagem de todos os estudantes.
Gostou desse bate-papo e quer ter acesso a outras entrevistas com personalidades da educação? Continue acompanhando o Portal CER!
Fonte: Portal CER
Entrevista com Maristela Guasselli, Dirigente Municipal de Educação de Novo Hamburgo/ RS, presidente da Undime Região Sul e Undime Rio Grande do Sul O impacto que a educação empreendedora e a educação inclusiva tem na vida de crianças e jovens é inegável e, muitas vezes, decisivo para a jornada de vida de cada um. É na trajetória da Educação Básica, afinal, que competências essenciais para a vida são estimuladas e desenvolvidas. E os retornos aparecem não só para os indivíduos, mas também para as instituições e para a sociedade como um todo, uma vez que a evolução se dá em diferentes âmbitos. Quem falou mais sobre o tema conosco foi Maristela Guasselli, Dirigente Municipal de Educação de Novo Hamburgo (RS), presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio Grande do Sul (Undime/RS) e autora do livro Formação docente e interfaces da inclusão: epistemologia e prática. Confira a entrevista! Como você define uma educação verdadeiramente inclusiva? Antes de tudo, quero dizer que acredito, verdadeiramente, na educação inclusiva. Penso que ela ocorre quando todos os processos da escola são realizados de forma fluida, sem barreiras de acesso arquitetônico ou cognitivo para nenhum estudante ou família. Não podemos pensar que a educação inclusiva é só para uma criança ou para um estudante deficiente. Existem diferentes maneiras de inclusão, inclusive relacionadas à cor, à raça, ao gênero, à religião, etc. Na minha opinião como pessoa, como professora e como estudiosa do tema, a verdadeira inclusão é essa amplitude, esse alargamento de possibilidades para todas as pessoas que convivem conosco – para estudantes, para professores, para familiares. Aqui em Novo Hamburgo, na nossa rede de ensino, trabalhamos com documentos orientadores para todos os professores. O Fundamentos e Concepções da Rede Municipal de Ensino – Documento Orientador – Caderno 1” passa pela definição de educação inclusiva e, sobre o papel da escola, diz que: “Na perspectiva da educação inclusiva, entendemos a escola como um espaço em que cada sujeito é protagonista de sua própria história, que constrói o seu saber na medida de suas possibilidades e potencialidades; dessa forma, é o lugar onde se privilegiam as singularidades dos sujeitos dentro do contexto coletivo, oportunizando diferentes estratégias pedagógicas para que todos possam aprender.” Portanto, é algo que está instituído em toda a rede municipal. Não é algo que alguém pensa isoladamente. Neste contexto, digo que, para verdadeiramente acreditar, é preciso investir, ter ações, ter práticas. Não basta pensar na legislação ou no que está escrito, mas ter prática e em como ela acontece. E por educação empreendedora, qual é o seu entendimento/definição e como ela é verdadeiramente empreendedora? Em nossa rede de ensino de Novo Hamburgo, trabalhamos também voltados para a Educação Empreendedora. Ela desenvolve competências integradas à construção de projetos de vida, que está indicado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esse é um ponto. A Educação Empreendedora também colabora para o desenvolvimento integral dos estudantes e estimula seu protagonismo em diversas faixas etárias, desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também oferece soluções e aperfeiçoamento da valorização profissional de professores e de gestores escolares. Aqui, nós trabalhamos com o ensino pela pesquisa desde a Educação Infantil. À medida que a integração do ensino vem pela pesquisa na Educação Básica, ele tem uma relação intrínseca com o desenvolvimento do empreendedorismo entre os estudantes. Isso porque esse empreendedorismo estimula o desenvolvimento de habilidades como resolução de problemas, tomadas de decisão e capacidade de adaptação. Esses são pontos que destacamos no ensino pela pesquisa que leva, fundamentalmente, para o empreendedorismo. Por exemplo, por meio dessa pesquisa, eles aprendem a lidar com a frustração, a persistir diante dos desafios e a trabalhar em equipe. Essas habilidades são essenciais para qualquer perfil empreendedor, que precisam ser resilientes, ter visão estratégica e saber se relacionar com as outras pessoas para alcançar seus objetivos. Não é um ensinamento somente para um dia, para uma feira ou para um espaço específico. São competências e habilidades necessárias e úteis para o dia a dia; é um aprendizado para toda a vida. Como a educação empreendedora pode apoiar na formação de indivíduos mais respeitosos, acolhedores e empáticos? A Educação Empreendedora visa preparar os estudantes para os desafios atuais – e isso abrange também o desenvolvimento de habilidades socioemocionais que abraçam um comportamento e um olhar que enaltece a importância do respeito, do acolhimento e da empatia. Como disse, os passos iniciais da Educação Empreendedora podem ser dados desde a primeira infância, como fazemos em Novo Hamburgo, quando ocorrem propostas investigativas pautadas na educação pela pesquisa. Essas propostas oportunizam desenvolvimento da capacidade de, entre outros pontos, buscar soluções para si, para os outros e para o meio – principalmente no que se refere ao ambiente, às relações e à coletividade. A Educação Empreendedora é uma das propulsoras desse processo. Como a educação inclusiva apoia no desenvolvimento de competências empreendedoras (e vice-versa)? São propostas e conceitos que se complementam o tempo todo. A convivência; a socialização; a autonomia; a independência; os cuidados consigo mesmo, com os outros e com o planeta; a autoestima; a vivência e aprendizagem das regras – que possibilitam o convívio em sociedade; a construção de identidades individuais e coletivas; a capacidade de fazer escolhas e assumir a responsabilidade. Tudo isso está interligado com a Educação Empreendedora e a educação inclusiva – e os benefícios e resultados que isso traz para toda a comunidade escolar. A escola deve ser esse espaço de diálogo, interativo, cooperativo, lúdico e um lugar de fala e de escuta, associado ao processo de aprendizagem. Quais estratégias os professores podem adotar para aplicar a educação inclusiva em sala de aula, diante de um cenário escolar que atua com práticas da educação empreendedora? Eu entendo que não tem um autor, uma prática ou uma metodologia específica. Penso que é um contexto geral, que passa pelo processo de ação-reflexão-ação. Cada caso é particular, é muito individual, mas é muito importante que haja disposição e vontade para isso. Entre as práticas que podem ser adequadas e adaptadas para cada realidade, ressalto algumas que adotamos em nossa rede municipal. O ensino pela pesquisa é uma delas, que incentiva e proporciona a organização dos conteúdos curriculares e proporcionam organização dos conteúdos curriculares, que não podem ficar de lado. O uso de equipamentos e de tecnologia digital também, que atende a diferentes necessidades dos estudantes (tablets, celulares e tecnologias assistivas, por exemplo) e dá suporte para o desenvolvimento de habilidades e competências singulares de cada um dos estudantes. Outro ponto importante é o apoio a todo o corpo docente – aqui, por exemplo, trabalhamos com a capacitação constante dos professores, sempre dentro do horário de trabalho. Deixe sua mensagem sobre a importância que enxerga na educação empreendedora (considerando a educação inclusiva como parte dela). Quero reforçar como valorizo a importância dos dois temas – e vejo seus resultados diariamente. É fundamental ressaltar que a Educação Empreendedora e a educação inclusiva estão sempre muito interligadas. Ressalto uma parceria que temos com o Senai, em que os estudantes do 80 e 90 anos da rede fazem três cursos profissionalizantes – então já saem com uma visão empreendedora, com uma qualificação mais específica. Isso tudo atrelado ao contexto das outras práticas, como o ensino pela pesquisa, é muito valioso, porque os estudantes aprendem a lidar com a frustração, com os desafios, com o trabalho de equipe, com a coletividade. Esse é um ponto de destaque. Todo esse conjunto promove um olhar mais crítico, questionador, que está sempre buscando soluções. Reforço também que a Educação Empreendedora e a educação inclusiva podem e devem ocorrer em todas as faixas etárias; não devem e não há motivo para se restringirem apenas a algumas idades. Todo o conhecimento produzido e gerado é utilizado na vida, não somente na escola. Ele reflete na casa, na escola, no bairro, na comunidade; no adulto, no líder e no dirigente que podem se tornar em alguns anos. Temos, portanto, que continuar investindo na educação, pensando sempre nessa coletividade, na construção e na possibilidade de aprendizagem de todos os estudantes. Gostou desse bate-papo e quer ter acesso a outras entrevistas com personalidades da educação? Continue acompanhando o Portal CER! Fonte: Portal CER