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18/01/2003 Undime

Mania de educação

O Brasil ainda tem 20 milhões de analfabetos. As elites que governaram este país nos seus 500 anos de História são responsáveis por essa triste estatística. Mas a sociedade não pode mais ficar impassível diante desses números.

Os 52 milhões de pessoas que, em 2002, fizeram o país mudar e transformaram o homem que enfrentou a fome e o analfabetismo em presidente da República agora têm um novo desafio: fazer o Brasil dar mais um passo, junto com o governo do presidente Lula, na caminhada para nos transformar na grande nação com que sonhamos na frente das urnas: abolir a fome e o analfabetismo.

Esse é o desafio maior e ninguém pode ficar indiferente diante dele.

A sociedade inteira, a iniciativa privada, o poder público em todos os níveis, cada cidadão, todos os jovens podem dar a sua ajuda para essa nova abolição. Um país que produz aviões, exporta automóveis, tem hidrelétricas e tanta riqueza não pode negar a 20 milhões de seus filhos o direito de ler e escrever.

Essa é a disputa histórica que o presidente Lula convocou o país a enfrentar na área da educação: em quatro anos, libertar todos os brasileiros da vergonha do analfabetismo. Nós não temos o direito de viver com essa vergonha e muito menos de deixá-la para gerações que venham depois de nós. Nós herdamos um Brasil com analfabetismo. Mas não podemos deixar esse legado para gerações futuras.

Não podemos nos esquecer da valorização dos professores nesse processo. Quando era menino, o professor era muito respeitado. E hoje a gente não tem esse respeito, porque os salários foram degradados, mas, sobretudo, mais do que por causa dos salários, por embarcar na idéia de que o crescimento econômico era a razão de ser de um país. Nós passamos a dar vantagens, possibilidades, tratar como se fossem nossos heróis os economistas, os engenheiros, os geólogos, todas as profissões que, como se diz por aí, aumentam o PIB.

Desprezamos as profissões que em vez de aumentar o PIB, aumentam a inteligência, o saber, a dignidade, a confiança, o respeito, que este país precisa.

Vamos aproveitar cada minuto, todos os espaços, a disposição de cada um e todos os métodos disponíveis, ou que venham a surgir para fazer a Educação caminhar sejam quais forem suas limitações financeiras, as dificuldades legais, os impedimentos. A História se faz com a vontade dos homens e daqueles que os lideram.

Vamos instituir no Brasil a mania da Educação. E Educação começa antes do nascimento. Onde houver mulher grávida, ela precisa contar com o poder público e com a sociedade para colaborar com futuro aluno que ela está carregando. E a partir do nascimento a tarefa dos educadores é cuidar para que a criança, ao entrar na escola, não esteja atrasada. Vamos trabalhar — governo e sociedade — para que no dia em que a criança fizer 4 anos a mãe e o pai possam pegá-la pela mão e levá-la à escola porque haverá uma cadeira para ela em alguma escola deste Brasil.

No prédio do Ministério da Educação, temos um retrato do Paulo Freire que simboliza a luta contra o analfabetismo, e um retrato do Anísio Teixeira simbolizando toda criança na escola e toda escola com qualidade. A Educação precisa chegar a cada município deste país. E para isso é preciso que cada governador, cada prefeito priorize a Educação, que toda a sociedade assuma a sua parcela de responsabilidade na construção da escola ideal para o Brasil.

Nós vamos, sim, fazer uma escola ideal neste país. Nossa geração tem a obrigação de construir a escola que o Brasil, há 500 anos, deve aos seus filhos. E isso não é tarefa para amanhã, ou depois de amanhã, embora seja tarefa urgentíssima. Mas o governo Lula não tem o direito de passar sem abolir o analfabetismo e abrir portas para que a nossa juventude vá se preparando cada vez mais para os desafios deste mundo cada vez mais competitivo.

Se dentro de 15, 20 anos tivermos todos os jovens com o ensino médio, com qualidade, pelos padrões internacionais, o Brasil terá construído a sociedade justa que sonhou quando votou em Lula. Porque se os governantes, depois que os alunos concluírem seus estudos, não fizerem o Brasil bom, eles serão derrubados pelos jovens educados desse país.

Como eu disse no discurso de posse, se conseguirmos igualdade na Educação, vamos reduzir todas as outras desigualdades, ainda que se mantenham diferenças no consumo, conquistadas graças ao uso competente de uma capacidade que se distribuiu igualmente.


CRISTOVAM BUARQUE é ministro da Educação.

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